A democracia tem destas coisas: nunca ninguém viu uma manifestação contra o aumento da despesa, mas o pagamento da dívida pode levar o protesto para a rua.
Entretanto a Grécia vai a votos pela nona no espaço de cinco anos, a coberto de um sistema que não favorece a estabilidade. A queda dum governo legítimo da Nova Democracia deu-se na conjugação do pico do doloroso ajustamento com a falhada eleição do presidente da república no parlamento, utilizada pelos partidos como guerrilha até à sua dissolução. Veio depois o Syriza, desde então os golpes de teatro foram aqueles que todos conhecemos, e só não se pode dizer que a Grécia bateu no fundo porque está por provar que tal elemento exista em política. O empate técnico apontado pelas sondagens entre os dois maiores partidos que estão condenados a implementar um duríssimo programa de austeridade não augura nada de bom: cansados, os gregos preparam-se para um cenário de grande instabilidade de que os portugueses não estão livres - se a 4 de Outubro, na ausência de uma maioria absoluta, os políticos e as instituições não forem capazes de gerar os compromissos que o bem comum exige.