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João Távora

Contagem decrescente

O lançamento público em Lisboa de "Cónicas Moralistas", a minha segunda colectânea de apontamentos e comentários, terá lugar no próximo dia 11 de Fevereiro pelas 15,30 no Instituto Amaro da Costa (Rua do Patrocínio nº 128 A em Campo d’ Ourique). O livro será apresentado por Eduardo Cintra Torres, por Pedro Mota Soares e pelo Cónego Carlos Paes, pelo que peço desde já aos meus amigos que aqui me visitam a reservem a data para estarem comigo nesse dia muito especial para mim. 

Da escrita

Há pessoas, quase sempre obscuros académicos, que escrevem de uma forma tão rebuscada, conjugando palavras difíceis escolhidas a preceito e sem critério aparente, frases tão extensas quanto incompreensíveis que mais parecem charadas. Ao principio, eu pensava que o problema era meu, mas depois percebi que essa é uma formula que eles usam para se armarem aos cucos disfarçando formulações de teses ilógicas ou mesmo a completa inexistência de uma ideia. Hoje estou convencido que fazem isso para gozar com o pagode, e riem-se dos que caem na esparrela de tentarem descodificar os seus textos.

Lisboa a arder

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Ironia do destino, a assunção de que o PSD concorrerá sozinho à CML surgiu pela boca de Pedro Passos Coelho no dia em que uma sondagem apontava para a preferência dos eleitores á direita por uma coligação. Uma péssima notícia para aqueles que viam nas próximas autárquicas uma oportunidade de castigar a esquerda pela trágica gestão que vem praticando no maior município do país. Digo isto com a autoridade de quem nunca foi um sectário do CDS, antes um pragmático que acredita ser a união dos dois partidos fundamental para os portugueses poderem ambicionar uma alternativa ao triste fado do socialismo. Espero enganar-me, mas receio bem que as hesitações e a demora na definição duma estratégia e de um seu candidato para Lisboa não deixarão de ser cobradas a Pedro Passos Coelho na devida altura. Definitivamente os lisboetas mereciam um entendimento entre os dois partidos à direita: cansados que estão de verem a sua cidade transformada numa lixeira e num infernal campo de experiências de mobilidade e trânsito, uma Lisboa que perdeu a vergonha de expulsar os seus filhos para as periferias, a capital que o tripeiro Medina pretende reduzir a um cenário hollywoodesco para turista ver, com o lixo escondido debaixo do tapete. Assim, com Lisboa “a arder”, um dia ele será recebido em ombros pelos portuenses mais ressabiados.  

 

Fotografia: Rua dos Anjos "Lixeiras de Lisboa" daqui

O bezerro de ouro do regime

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 Curioso aquele busto da república destacado à cabeceira do caixão de Mário Soares nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos como se fora um bezerro de ouro. Chesterton tinha razão quando afirmava que "quem não acredita em Deus tende a acreditar em tudo". 

Da grosseria

Com algumas reacções à morte de Mário Soares nas redes sociais se comprova que tanto há gente alarve de direita como de esquerda. A grosseria é muito democrática. A diferença é que enquanto a direita se envergonha, à esquerda ela é arma para a revolução que não sobreviverá sem o ódio.

Mário Soares: Deus o tenha em Sua infinita misericórdia


Mário Soares esteve do lado da liberdade quando esta foi ameaçada. Eu estive na Fonte Luminosa, tinha 14 anos e naqueles tempos tumultuosos passava dias no Caldas a distribuir viveres aos retornados e noites em casa a rezar pelos nossos amigos que eram presos ou perseguidos. Assisti em directo ao seu confronto com Álvaro Cunhal. Soares foi corajoso e esteve no lado certo quando isso era arriscado.



Fiquemos com a recordação do Mário Soares bom e magnânimo - nunca nenhum outro presidente foi tão simpático para os Duques de Bragança a cujo casamento fez questão de ir e facilitar nas delicadas questões protocolares que se colocavam num evento que tomou dimensões grandiosas com honras militares e transmissão directa pela televisão pública.



Era laico, socialista e maçon, cometeu muitos erros e era desbocado. Deus talvez perdoe as suas falhas e pecados. A História encarregar-se-á de lhe fazer justiça.

Populismos e Pós-verdades

Pelo que vi em duas horas de noticiário da SIC Notícias que passei em "F. Forward", o que de mais importante que marca a agenda do país é a sova que um adolescente levou há dois meses e a (in) competência dos árbitros de futebol. Só faltou o comentário do professor Marcelo, mas com a pressa deve ter-me escapado.

Discos e riscos

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Para uns delicados ouvidos analógicos como os meus é reconfortante verificar como, a par do vertiginoso processo de desmaterialização da música e do crescimento exponencial do seu consumo através das de plataformas de streaming como o Spotify, Apple Music ou o Google Play, o mercado do vinil vai-se afirmando como uma consolidada alternativa para os verdadeiros melómanos e audiófilos. A comprová-lo basta verificar o espaço a ele reservado nas lojas Fnac, já para não falar da proliferação de novas lojas de discos nos grandes centros urbanos, ou pelo facto da versão em vinil de "Black Star" de David Bowie ter vendido globalmente perto de 500.000 cópias. No entanto convém realçar que este crescimento terá sempre como limitação os custos monetários necessários para a aquisição de um competente sistema de reprodução: um bom gira-discos com uma boa célula, um amplificador competente com entrada “Phono” e umas colunas adequadas ao espaço em que vão tocar. De resto faz-me alguma confusão a profusão de oferta de pequenos gira-discos de má qualidade, a maior parte com um atraente design “vintage”, que constituirão um logro para o consumidor, que rapidamente se perceberá que, para além de estragarem dos discos, não preenchem os valores mínimos de qualidade sonora comparativamente a qualquer pequeno dispositivo de reprodução digital, até o smartphone mais básico.

 

Publicado originalmente aqui.

Alberto Gonçalves "despedido" do Diário de Notícias

Alberto Gonçalves DN Diário de Notícias Dias Co

A confirmação veio através de um post do próprio Alberto Gonçalves no Facebook: “só para evitar confusões: saí do DN por vontade da direcção”. Custa-me a acreditar que um jornal como o Diário de Notícias, que luta pela sobrevivência no exíguo espaço que sobeja para a imprensa dita “tradicional”, dispense um dos mais talentosos e populares cronistas da nossa praça. Como é que um jornal, qualquer que ele seja, que pretenda sobreviver nestes tempos em que perdem influência, dá assim um tiro no pé? Em compensação agora oferece-nos essa consagrada virtuosa da escrita que é Maria de Lurdes Rodrigues... A sensação que fica é que os editores não se dão bem com a pluralidade e com a irreverência, preferindo uma pena amestrada e complacente para com a oligarquia que nos pastoreia.

Há uns meses elogiei aqui esforço do DN pela inclusão deste colunista que lhe conferia uma qualidade extra ao Domingo, dia em que muita gente não dispensava a leitura dos textos ácidos e bem-humorados do Alberto Gonçalves. Suspeito que o DN não resista muito tempo a tantos maus tratos. Temo pelo futuro desta velha marca centenária do jornalismo português. Mas pensando bem talvez não seja grave: sobram sempre os blogs e as redes sociais. 

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