Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

João Távora

25 de Abril

Para muitos monárquicos da geração dos meus pais e avós o 25 de Abril foi uma janela de esperança que acontecia depois dos dois regimes despóticos que sobrevieram à monarquia constitucional. No entanto, preocupada com a sua sobrevivência, jamais a democracia se abriu à discussão do sistema de Chefia de Estado.

A propósito de Senhor Dom Duarte e o Protocolo do Estado

dduarte.gif

 O deputado socialista Ascenso Simões reconheceu na sua coluna da passada quarta-feira aqui no jornal i que a petição que por estes dias decorre online para a inclusão do Chefe da Casa Real Portuguesa no Protocolo de Estado “(…) não se apresenta recheada de problemas políticos ou institucionais, uma vez que D. Duarte é conhecido como herdeiro da coroa” e que “(…) o protocolo do Estado deve acomodar uma norma que permita aos mais altos representantes do Estado conferirem a D. Duarte, por tudo o que representa, uma dignidade única em circunstâncias especiais? A nossa opinião vai no sentido positivo.” Tirando a menorização dos monárquicos que pelos vistos Ascenso Simões execra, estamos de acordo com tudo o mais no seu artigo e é precisamente no sentido que afirma que a petição surge. De facto esta iniciativa não pretende "monarquizar" o regime republicano que nos coube em azar, e muito menos "republicanizar" a Instituição Real como receiam alguns monárquicos. A petição não pretende atribuir aos Duques de Bragança nenhum lugar na lista de precedências existente, essas constam do art.º 7.º da Lei e não se lhe pede alteração. O que se pede é que o representante dos reis de Portugal, quando convidado para qualquer cerimónia, nela tenha o estatuto honroso e digno, de "convidado especial", estatuto que não altera a lista das precedências do Protocolo. Implica apenas, e não é pouco, uma especialíssima relevância a conceder a um convidado que é, pelo que na verdade representa, “especial”. 

De resto as Reais Associações são por natureza e vocação uma “mixórdia”, no sentido de “misturada”, como lhes chama Ascenso Simões. Representam grupos heterogéneos, transversais, e por isso, talvez elas possam ser vistas pelos seus detractores como “mixórdias”. De facto as Reais Associações assentam na diversidade de que é feito o nosso país, nas várias regiões em que estão inseridas. Elas não se dirigem a um grupo em particular, facção ideológica, classe social ou elite cultural, antes se dirigem a todos os que não se conformam com a república a que chegámos em 1910 e que gostariam ver restaurados os valores permanentes da nossa portugalidade. Ora acontece que esses valores não sendo propriedade de ninguém, são seguramente protagonizados pelo Senhor Dom Duarte.
Finalmente, os defeitos que atribui aos monárquicos como eu, não nos impede de querermos ser cada vez mais e melhores. É por isso que estamos a trabalhar todos os dias.

 

Publicado originalmente aqui

Jogo perigoso

O dia seguinte.jpeg

 

Os programas de debate futebolístico à segunda-feira nos canais de notícias vêm-se tornando numa autêntica aberração imprópria para crianças e gente civilizada - caio lá demasiadas vezes nos meus zappings à procura de notícias depois do jantar e fujo quando a coisa azeda, que nunca demora muito tempo. Na busca de audiências, que o mesmo é dizer, transpondo para a discussão verbal o mais básico fanatismo das claques, a conversa descamba com demasiada frequência para a insinuação e o insulto, que propicia cenas de algum embaraço quando a ténue fronteira do descontrolo emocional ameaça desabar entre os oponentes.
Sou do tempo em que no Sporting se debatiam fórmulas de atrair a família, nomeadamente senhoras e crianças para as bancadas do estádio, mas receio que o percurso feito nos últimos anos pelos clubes, através de políticas de comunicação extremamente agressivas, vem sendo inverso: a seguir a cada jogo, no espaço público que vai entre as televisões e as redes socias, toma lugar uma batalha verbal com pouco compromisso com a verdade e ainda menos com a boa educação. Voltando às televisões, desconfio que os responsáveis dos programas, que se não são os primeiros responsáveis, são cúmplices activos, estão simplesmente esfregando as mãos expectativa duma cena de descontrolo ou até de pugilato que exponencie as audiências, que por um dia catapulte o seu programa para os píncaros da popularidade, como se de um radical reality show se tratasse. Veja-se o caso do “Prolongamento” na TVI de ontem em que José de Pina e Pedro Guerra despudoradamente perderam a compostura (presumo que seja habitual).
Acontece que sou um amante do futebol, que preza a rivalidade acesa dentro das quatro linhas, transposta para as bancadas dentro dos limites mínimos das salutares regras de civilidade. Não compreendo que se critiquem os jogadores ou os espectadores quando se descontrolam e se aceite passivamente que esse jogo perigoso seja extrapolado para a televisão com um discurso que toca as raias do irracional como se fosse legítimo.
Sou do tempo em que as televisões e o jornalismo tinham pretensões pedagógicas e sabiam o seu papel na sociedade. Não me parece que a busca de audiências justifique um espectáculo tão indigno quanto aquele que se vê nos serões das segundas-feiras por essas TVs.

Publicado originalmente aqui