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João Távora

Os meus desejos para 2018:

 

• Aprender a escrever com os dois polegares no telemóvel.
• Arranjar uma avença daquelas na CML.
• O Sporting Campeão.
• Fazer a passagem de ano em casa, de pantufas.
• A paz no mundo.
• Viver num país mais civilizado.
• Ter mais tempo para escrever sobre o que gosto.
• Comprar umas colunas novas (depende da consumação do segundo desejo).
• Deixar a filharada e ir viajar com a minha mulher (sem remorsos).
• Assistir à reunião dos Genesis com o Peter Gabriel. 
• Arranjar uns desejos realizáveis para 2019.

Feliz Ano de 2018 para os leitores do Corta-fitas, são os meus votos.

Para que serve afinal o amor?*

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Nestes tempos moderníssimos impera por aí uma enorme confusão sobre o que é o amôr romântico, se é coisa de se fiar e se tem alguma utilidade - já lá vai o tempo em que tudo se percebia por uma canção. Não parecendo, esse é um assunto que importa esclarecer.  

Eu adivinho que a minha filha teenager desconfia que eu não acredito nesse amor, é natural. Mas ao contrário do que possa parecer, eu acredito no amor romântico – eu só acredito no amor com romance - crença que herdei não só do cinema, das canções e da literatura, mas da família e dos vários exemplos que nela testemunhei. 

Mas afinal o que é o amor? Para que é que servirá essa energia extraordinária feita de cardíaca incompletude e desejo insatisfeito, quando o nosso coração cego nos impulsiona para os braços da pessoa eleita? Isso do amor, a que numa fase aguda se usou chamar paixão, ao princípio vai alimentar-se do mistério e novidade do outro, acalentadas pelas circunstâncias da vida que vão sendo exploradas a dois na cumplicidade amiga do tempo novo – então é sempre tudo novo. A diferença é que, ao contrário do que clama o ar do tempo, eu estou convicto que essa poderosa energia, cantada pelos poetas e pelos trovadores desde os confins da História, não é um fim em si mesma. Serve precisamente para o cumprimento das embebedadas promessas proferidas pelos apaixonados, para a construção de uma história cúmplice, feita de referências, dos momentos com que se constroem os alicerces dessa nova entidade em formação que é o Casal – o resultado dos dois indivíduos em comunhão. Isso é a maior realização do amor. Para nos podermos amar “para sempre” temos que nos preparar para a viagem, para enfrentar o tempo, domesticá-lo, como se fora nosso aliado. O amor romântico no fundo não é mais do que o capital inicial com que se começa um exigente empreendimento, que no meu modo de ver se realizará na forma de uma nova família. Matéria tão nobre e exigente como essa requer um grande investimento, daí a importância do amor aforrado em tempos de abundância, de excesso, de euforia. Um grande amor assim não merece ser desbaratado a consumir-se a si próprio como se ele fora um fim em si mesmo; merece ser forja de uma história burilada a dois, que cumpra o final feliz que foi prometido um ao outro em juras de amor eterno. A maneira de tirar rendimento dessa potente energia é aplicá-la numa obra que nos transcenda, em vez de a deixar dissipar para o vazio como vapor desaproveitado. O amor romântico produz uma energia extraordinária.

Por tudo isto eu direi sempre aos meus filhos que nunca acreditem em nada menos que um grande amor, eufórico, cheio de promessas e ilusões – esse é um risco mínimo exigível para um projecto a dois que se queira bem-aventurado e fecundo. Acontece que realizar o verdadeiro amor exige ambição.

 

*Texto dedicado à minha filhota Carolina no dia em faz 17 anos. 

 

Imagem: L’Amour désarmé - Antoine Watteau, 1715. 

É urgente o Natal

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 (…) «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».

 

Quem já viveu directa ou indirectamente o nascimento de uma criança conhece o radiante encantamento que isso provoca, ocasião em que um autêntico presépio acontece à volta do bebé e da mãe embevecida, com um vai e vem de visitas, quais pastores e reis magos que confluem para festejar a alegria da nova vida que desponta. Uma criança recém-nascida desperta no coração mais empedernido sentimentos de ternura e compaixão, é definitivamente sinal de esperança e reaviva o que há de melhor em nós. Por isso guardo memórias gratas dos nascimentos dos meus filhos, da casa quente e protectora como uma fortaleza, mas aberta para os outros numa harmonia de vontades, todas devotadas ao rebento e à mãe, suporte umbilical daquela chama frágil que desproporcionada e indefesa se adivinha entre os folhos dos xailes e colchas aconchegantes. Tendo os nascimentos dos meus filhos acontecido no Inverno, lembro-me como era importante sempre ter água fervida até para deitar no chá quando chegava mais uma visita, e da temperatura amornada pelo calorífero com as janelas fechadas que guardavam um cheiro a conforto que jamais esquecerei.

Com o presépio de há dois mil anos em Belém da Judeia acontece uma história igual mas com a proporção do universo, a dimensão da humanidade. Aquele menino recém-nascido projecta-se feito luz e Amor na nossa História, não para uma família, mas para o mundo inteiro; profecia cumprida da libertação do homem da sua precariedade, Deus feito frágil menino para vencer a morte e converter do Mundo à Boa Nova que Ele constitui. Oferecendo paz aos corações atormentados, esperança aos descrentes, conforto aos desamparados. Talvez por isso, e apesar de tudo, a mensagem do Natal continua actual a ecoar ao fim de dois milénios no coração de tantos pastores e de reis que queremos ser por estes dias, para acorremos enlevados ao chamamento do anjo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».

No dia em que o Homem deixar de se encantar com o milagre da Vida que lhe foi dada está condenado às trevas, à extinção. Por isso é urgente acreditarmos no verdadeiro Natal.

 

Votos de um Santo Natal para todos os leitores deste blog. 

O histórico legado

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"Sempre meus avós vos anunciaram o nascimento de seus filhos {…} Sejam quis forem os tempos, de longe ou de perto, vós sois para mimo mesmo que fostes para os meus antepassados: o povo querido e glorioso que melhor serviu a Deus e à sua terra e mais amou os seus reis. Por isso vos anuncio como eles anunciavam, o nascimento de meu filho, oferecendo a sua vida ao bem Portugal com o mesmo fervor com que há muito consagrei a minha {…} Dou-vos nesta hora de interrogações e ansiedadesque oprimem, a certeza de que não findará no meu lar a consciência das responsabilidades que me prendem a Portugal e à felicidade de todos os portugueses.”

 

Excerto da mensagem do Senhor Dom Duarte Nuno, do exílio em Berna aos portugueses por ocasião do nascimento do seu filho primogénito o Senhor Dom Duarte Pio, a 15 de Maio de 1945. In “Nas teias de Salazar – Dom Duarte Nuno de Bragança (1907 – 1976) Entre a Esperança e a Desilusão, de Paulo Drumond Braga – 2017 Editora Objectiva.

 

Publicado originalmente aqui

A luta pela liberdade

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Não deixando de ser um assunto de suprema importância, a temática da gestão da contabilidade do país, mais décima, menos décima de déficit, mais décima ou menos décima de crescimento, não pode monopolizar da discussão política nacional. O pudor, se não vergonha, assumida nos tempos mais recentes pelos partidos da direita no que refere a uma perspectiva ideológica distintiva sobre as reformas preconizadas para um resgate do País do atoleiro em que vivemos imersos, vem empobrecendo o debate político, tornando-o árido e desmobilizador. É assim que se vai tomando como natural a prevalência da mensagem das esquerdas radicais, que aproveitam o vazio do contraditório ideológico para fazer vingar a ideia da fatalidade dos portugueses viverem submissos a um Estado omnipresente que com o seu centralismo sufoca a sociedade civil nas suas mais diversas formas de afirmação.

Sob este ponto de vista, parece-me fundamental que os partidos da direita (nomeadamente o meu CDS) assumam um discurso que saiba honrar as suas tradições liberais e conservadoras, promovendo as suas próprias reversões, recuperando causas que foram sequestradas pelo despotismo do unanimismo progressista imperante, atrevendo-se mesmo nas questões de costumes, mesmo que se afigurem de difícil afirmação. A redução do Estado a funções subsidiárias, a liberdade de ensino, a soberania e a identidade nacional, a família natural e o valor absoluto da vida, a valorização do território, a “descentralização” administrativa e ideológica na convocação da sociedade civil, são Causas que parecem utópicas mas que são bandeiras alternativas ao estaticismo imperante, na prática e no discurso. Estou convencido que a coerência aos princípios próprios, mesmo que contra o discurso politicamente correcto promovido pelos media institucionais, ganha pontos, se não imediatos, a prazo.

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Passei ontem o dia entre amigos numa comunidade católica do conselho de Almada, o Vale d’ Acór, que, liderada pelo Pe. Pedro Quintela, há mais de 20 anos instituiu um projecto de tratamento e recuperação (repito, re-cu-pe-ra-ção) de toxicodependentes com base numa terapêutica fundada em Itália, o “Projecto Homem”. Por lá passaram ao longo do tempo, com mais ou menos sucesso, centenas de rapazes e raparigas com problemas graves de adição, muitos deles que após um duro processo terapêutico e de reinserção são hoje pessoas válidas na sociedade, protagonistas anónimos das suas próprias vidas. Triste foi constatar que, passados estes anos, esse projecto terapêutico se encontra ameaçado pelos programas de drogas de substituição e pela resistência do serviço nacional de saúde indicar este tipo de profilaxias aos utentes que nele pretendem ingressar, porventura mais dispendiosas e de resultados estatísticos mais atractivos. Ouvi um testemunho de um rapaz em sucessivas entrevistas no CAT foi insistentemente desaconselhado a integrar aquele programa no qual tinha intenção de aderir por já o conhecer numa experiência anterior. É triste constatar como alguns daqueles rapazes e raparigas que em tempos violentamente se confrontaram com o fim da linha, e que a contragosto ingressaram e estoicamente lutaram contra os seus fantasmas e fraquezas no duro programa terapêutico que lhes prometia a recuperação da dignidade duma pessoa livre, se fosse hoje, seriam convidados pelo Estado para um indigno perpetuar de uma vida humilhante de dependência e infantilização, que são os programas da metadona.

O que é que este parágrafo tem a ver com o assunto abordado nos anteriores? Tudo: a luta pela liberdade tem de ser a nossa maior Causa.

Hymno da Carta

Aqui partilho a minha última aquisição: o Hino da Carta composto por Dom Pedro IV, que foi o hino nacional até à revolução da república, gravado num cilindro de cera e reproduzido no meu Edison Home Phonograph de 1900.

 

Publlicado originalmente aqui