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João Távora

Pensamento do dia

É pena que as tão afamadas alterações climáticas a acontecer não sejam para melhor (um sol menos inclemente durante o dia e umas salubres chuvas de madrugada, por exemplo). Ao invés prometem ser catastróficas, dizem os especialistas (nuca vi gente com tão boa imprensa). Se o São Pedro me encarregasse do assunto iam ver os melhoramentos que eu promovia.

A Dona Hermingarda nunca perde a face

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Sou daqueles que se surpreenderam com a posição assumida por Marcelo quanto à não recondução de Joana Marques Vidal, que me espantou de tal forma que me cheirou a traição. Agora, depois de uma rápida pesquisa na Internet temos que convir que a sua opinião nunca foi declarada, a desilusão foi culpa minha: fui eu que imaginei um braço de ferro nos bastidores da arena política entre um resoluto Presidente da República em defesa de um Ministério Público independente e António Costa refém da ressentida oligarquia socialista determinada ao despedimento da Procuradora – quem se mete com o PS leva. Fantasias, certamente.
A coisa faz-me lembrar uma história que se conta na minha família sobre um nosso parente adolescente muito malcriado, chamemos-lhe menino Zequinha e da sua mãe, uma empertigada senhora de sociedade, chamemos-lhe Dona Hermengarda, que um dia num distinto almoço que oferecia em casa foi confrontada pelo infante que para abandonar a mesa a meio da refeição e ir ter com os amigos pegou na faca para cortar uma fatia dum imponente bolo da sobremesa, gesto que a Dona Hermengarda peremptória o interditou: “se o menino quer comer o bolo, fica para a sobremesa”. O jovem dirigia-se lentamente para o bolo e a senhora sua mãe de novo o interpelou: “não corte o bolo!!”. O menino Zequinha indiferente ia aproximando a faca do bolo e a Dona Hermengarda, perante os comensais atónitos, atrapalhada exclamou mais alto, “menino Zequinha, obedeça à sua mãe, ou fica para a sobremesa ou não come o bolo!”. Ao mesmo tempo, desafiando a autoridade da sua mãe, o menino Zequinha, arrogante, ia chegando a faca ao bolo, o que fez que a Dona Hermengarda, aumentasse o tom da sua voz para ordenar quase em desespero “não corte o bolo!!!”, até que, ao mesmo tempo que o marmanjo insolente espetou a faca no bolo a Dona Hermengarda para não perder a face gritou para que todos os convidados ouvissem, “corte lá uma fatia de bolo, é uma ordem da sua mãe!!!” 

É mais ou menos nestes moldes que eu imagino que nos últimos meses tenham decorrido as “negociações” até à passada quinta-feira em que o magnânimo Marcelo deu a bênção à nomeação de Lucília Gago. Fantasia minha, certamente.

 

Foto Lusa

Assuntos candentes

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Agora a Rua Sésamo veio negar esse disparate do Egas e o Becas serem um casal, esclarecendo que são apenas dois bonecos consequentemente sem vida sexual. Em 2018 andamos nisto. Ao menos na Idade Média a bizantina discussão do sexo dos anjos era um pouco mais elevada. 

Entretanto na Assembleia da República os deputados preparam-se para discutir a proibição da caça ao Saca Rabos.

Ora digam lá se isto não anda tudo ligado?

 
 
 

Duas pinceladas impressionistas sobre a história da humanidade

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Expulsa do Éden, a humanidade tornou-se escrava dos elementos, receosa da criação, desconfiada do seu olhar. O homem ganhara consciência de si, prenúncio de uma tragédia. Com o tempo, foi aprendendo (e obrigado) a olhar à sua volta, a interpretar o Mundo e assim defender-se da sua violência, iludindo a precariedade. Olhando para fora identificou as ameaças mas descobriu a Beleza onde se esconde Deus. Seduzido pelo seu reflexo, assim foi progressivamente fortificando a ideia de individualidade que o olhar de Cristo consolidou na noção de Livre Arbítrio (vontade) e na consciência da sua singularidade de criatura divinal e dramática. Esse percurso é reflectido nas artes, da literatura à pintura, passando pela música; do formalismo à exacerbação do filtro das paixões, desejos e frustrações, da genialidade com que o artista foi submetendo a realidade à sua recriação. Daí ao auto-convencimento da supremacia do seu olhar sobre a realidade em si mesma, fixado na sua auto-suficiência, o “eu” arvorou-se no fim e o princípio de todas as coisas e até a beleza caiu em desuso. Não interessa mais o que são as coisas, mas como cada um as sente, e vai aonde te leva o coração. Assim, o individuo desliga-se dos outros e da História, descarta o compromisso por troca com o efémero, todos filhos únicos, geração espontânea,  tudo é relativo, sensações, uma pedrada, uma “experiência”, um estado de espírito, o amor-próprio e outras balelas, uma "assinatura" esborratada num monumento, “ó Leonilde is lôve”, que a Arte é um direito de todos como a opinião. 

Aqui chegados, tornámo-nos todos narcisos definhando estéreis à beira do rio que flui indiferente, embevecidos (ou acabrunhados) com o próprio reflexo, que a vida são só dois dias e amanhã é o fim do mundo.

 

Imagem: Metamorfose de Narciso, Salvador Dali 

Unir o Sporting

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Apesar de nenhum dos 7 candidatos a presidente do Sporting me ter deslumbrado particularmente tomei a decisão de votar em Frederico Varandas. Convenceram-me a sua genuína vontade de ocupar o cargo reflectida no corajoso e antecipado anúncio da sua candidatura, a lufada de juventude que transparece e a consistência da sua carreira como médico e militar, que dá indicações dum perfil decidido, resiliente e ponderado, qualidades necessárias para o difícil período que o nosso emblema enfrentará nos próximos tempos. Importa aqui ressalvar que se for outro candidato a obter a confiança dos sócios, esse será presidente que eu apoiarei no dia seguinte, para reerguer o Sporting do vendaval de destruição sofrido nos últimos meses e fazer esquecer o maluquinho do kamikaze cujo nome me escuso mencionar. Para que isso aconteça, no sábado os sócios são chamados a comparecer em peso, única fórmula de virarmos a página mais negra da nossa história e assim voltarmos a unir o Sporting.

 

Publicado originalmente aqui

A Igreja que se reergue

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Um amigo meu agnóstico comentava comigo há dias as recentes manchetes que flagelam a Igreja afirmando que, ao contrário do que se diz, não há hoje uma especial crise de vocações, ela sempre existiu, só que na geração dos nossos pais e avós as motivações para o sacerdócio nem sempre seriam as mais correctas – um modo de vida, ascensão social e académica, etc.

No outro dia, perguntei à minha mãe quem era o padre que aparece numa fotografia a ministrar-me o sacramento do baptismo. Surpreendeu-ma a sua resposta, que não sabia, tanto mais que naquele tempo não era como agora, havia muitos padres mas a maior parte deles (com bastantes e honrosas excepções) eram como que anónimos “funcionários”, figuras cinzentas sem grande carisma ou autoridade. Disse-me que temos sorte nos nossos dias, onde encontramos vocações extraordinárias, homens de rara erudição, grandes exemplos de espiritualidade, modelos de santidade e verdadeiros heróis no serviço. Conheço de perto alguns casos impressionantes.

Isto para dizer que, ainda antes da previsível legalização da pedofilia (o abaixamento da idade de consentimento de que se fala no influente meio LGBT), acredito que as ovelhas negras estão condenadas à erradicação nos seminários.