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João Távora

A guerra nas nossas ruas II

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Eles gostam é de "engenharias" e andam por cá há muito tempo a destinar as nossas vidas e amestrar as nossas afeições. Uma das actividades preferidas deles é a de mudar os nomes às ruas, normalmente com um intuito de educar o povo para o “progresso civilizacional”. É assim que agora, com os votos do PS, PCP e Bloco de Esquerda, o Campo das Cebolas vai ostentar uma placa toponímica com o nome de José Saramago, como pretendia o executivo de Fernando Medina – o povo, esse continuará a chamar-lhe o nome antigo. E porquê não homenagear o escritor numa dessas “novas centralidades” em evolução na cidade?
Como lisboeta, é para mim uma tristeza imensa a forma despótica como meia dúzia de iluminados vêm apagando os ecos da memória colectiva da minha cidade ao sabor dos eventos políticos ou conveniências das suas clientelas. Lisboa ainda ostenta ruas com nomes antigos que falam do lugar mas já não falta muito para eles destruírem definitivamente a alma cidade e torná-la num insuportável panfleto sobre as virtudes da “modernidade” e dos seus arquitectos. Estamos entregues a uma cambada de brutos e eu não me conformo com isso.

A luta de classes deu a volta

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“Devolvam-nos o caviar” é o titulo do novo livro do João Gomes de Almeida, que reúne as crónicas que ele vem publicando (à borla) no jornal i e Eco. Isto confirma a minha suspeita de que o melhor do João,  que é um belíssimo publicitário, sempre foram os títulos – não desfazendo.  

Mas a questão principal é que este título nos remete para uma trágica realidade a que urge a ciência política debruçar-se: aqui chegados o poder político e económico, não está na direita liberal ou conservadora dos Joões Gomes de Almeida ou Lancastre e Távora da vida, que nos dias de hoje se esmifram a trabalhar sem descanso semanal para todos os meses levarem um parco sustento para casa, espremidos pelos impostos que servem unicamente (não há investimento público e os serviços do Estado degradam-se todos os dias) para pagar doses de caviar para a esquerda que nas ultimas décadas se instalou nas empresas, organismos e cargos estatais - um autêntico progresso civilizacional. É confirmar este fenómeno na proveniência laboral dos deputados na assembleia da república e atestar quem, antes de ocupar lugares públicos pagava ou consumia os nossos impostos. O problema é que no que concerne à luta de classes esta realidade inverte o ónus da dialéctica: o levantamento revoltoso a verificar-se algum dia (populista, certamente) terá proveniência dos novos descamisados, que são explorados pelos esquerdistas e seus familiares que capturaram o Estado, e que à falta de melhor, com os chavões, causas fracturantes e identitárias, tentam entreter o neoproletariado enquanto os sugam até ao tutano. 

Definitivamente eles não nos vão devolver o caviar, e até eu já me sinto um revolucionário.  

O grande buraco

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Quem veja a fotografia aérea da estrada que desabou entre duas explorações de mármore em Borba vê uma amarga metáfora sobre o desleixo nacional e o enorme buraco subjacente. Não é preciso ser engenheiro civil para  perceber que aquela estrada deveria ter sido vedada há muito, que houve incúria da autarquia e ganância na exploração das pedreiras de um lado e do outro da velha estrada. E não, este problema não se restringe às autarquias do Portugal profundo ou a insaciáveis empresários de província: é transversal ao nosso País governado de improviso de alto a baixo, um dia de cada vez, fazendo figas para que o vento não mude, que com um muita aldrabice e sorte à mistura vai contornado os grandes desafios que se nos colocam. Ao povo, que não esqueceu e miséria e é pouco dado a responsabilidades, bastam um pouco de circo e um naco de pão. Afinal a catástrofe somos nós, sem rei nem roque. 

Assembleia da "república"

O meu austero professor da primária na Escola da Câmara da Rua da Bela Vista (à Lapa), o professor Júlio (que distribuía reguadas épicas aos mais cábulas), quando apanhava os alunos em rebuliço berrava que a sala de aula "não é uma república!" Nesse sentido a assembleia deles em S. Bento não deixa os créditos em mãos alheias. 
Mais do que corarmos de vergonha alheia com as justificações da deputada Emília Cerqueira no confrangedor caso das falsas presenças em plenário de José Silvano, é o ensurdecedor silêncio corporativo dos restantes partidos no parlamento. Se isto acontecesse numa qualquer democracia desenvolvida os dois deputados já teriam há muito embalado a trouxa e renunciado ao mandato. Somos a “república portuguesa”, temos aquilo que merecemos.