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João Távora

A decência como desafio vital

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A vitória do Sporting na final da Taça no passado sábado, outros já o terão dito, representa além de tudo o mais, o enterro definitivo da peste brunista que num passado recente se apoderou e ia liquidando de vez o nosso amado Clube. De caminho também representou a afirmação de valores como o Fair play e da boa educação no futebol – até por contraste com a atitude do treinador adversário - um distintivo que sempre esteve no ADN do Sporting. Agora podemos envergar as nossas cores com a cabeça erguida.

Mas não será fácil fazê-lo sozinhos no ambiente doentio que grassa à volta do futebol. Tenho para mim que a sobrevivência desta indústria depende de uma inversão radical na forma como os clubes têm gerido a sua comunicação (e a sua conduta), transformando esta salutar paixão numa guerra sem quartel, com uma batalha verbal em que vale tudo, no total desprezo pela ética e civilidade, no demente propósito de amesquinhar os adversários. Basta escutar cinco minutos os protagonistas de alguns programas televisivos a dizerem disparates impróprios para crianças e pessoas decentes que gostariam de continuar a frequentar os estádios com as suas mulheres e os seus filhos em vez de os entregar às hordas alienados. Por isso não me surpreenderam os comentários hostis dos sequazes portistas a um tweet do escritor e comentador Francisco José Viegas, quando no rescaldo do campeonato apelava que os adeptos dessem os parabéns ao Benfica, deixassem de comentar os árbitros e que se concentrassem no jogo do Jamor.  Eu também acredito que o desporto, mesmo sendo espectáculo, tem de permanecer uma actividade nobre e pedagógica, caso contrário, não vale a pena.

Repito o que atrás afirmei: é urgente que se coloque um travão à grosseria que vem sendo transposta das antigas tabernas insalubres para os painéis das televisões e para as salas de imprensa dos clubes, criando um ruído insuportável que tanto mau nome dá à modalidade. Pela minha parte ficarei muito orgulhoso que o Sporting se torne exemplo de integridade e Fair-play, remetendo para dentro do campo toda a virilidade e arrebatamento, e que eu jamais me envergonhe de frequentar um Estádio de Futebol.

 

Fotografia daqui

Publicado originalmente aqui

Pior era impossível

A haver uma boa notícia nestas eleições, cuja brutal abstenção fere de morte a representatividade dos eleitos, é que a envergadura da catástrofe exigirá uma profunda reflexão de todos os participantes. Ninguém em boa consciência tem razões para festejar. No que à direita diz respeito, reduzida a escombros (note-se que os votos brancos e nulos foram a 4ª força política com mais de 7%, bem à frente do CDS) não tem tempo de se refazer das feridas até às legislativas de Outubro, e só um milagre evitará a repetição duma humilhação. A grande questão é: como operar esse milagre em três meses, numa direita que só será viável em coligação mas nunca esteve tão dividida. Pobre país...

Hoje é dia de festa, dia de agradecer

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Hoje, quando o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles celebra o seu 97.º aniversário há que sublinhar a perenidade das suas ideias como líder monárquico que se foi afirmando desde a Convergência Monárquica de 1961 até ao regime emergente da revolução de Abril através do partido monárquico que ajudou a fundar, uma referência democrática e de vanguarda na abordagem de problemas fundamentais para o futuro de Portugal como cultura, paisagem e território. Esse duplo compromisso com a tradição monárquica e lealdade à Casa de Bragança na pessoa do Senhor Dom Duarte Pio e a modernidade ecológica — representada pelo seu alerta precoce para a degradação da tão estimada ruralidade e pela sua defesa dos solos agrícolas de qualidade — não se esgotou no passado recente: antes pelo contrário, vivifica-se e renova-se continuamente, diante do actual estado das coisas. Na verdade, a mensagem de Gonçalo Ribeiro-Telles parece-nos das mais poderosas e inspiradoras do nosso tempo. 

Estamos-lhe gratos por tudo que tem feito por nós, Senhor Arquitecto.

 

Imagem daqui

A Europa começa aqui

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Tem sido confrangedor assistir aos noticiários da campanha eleitoral, já para não falar dos debates televisivos que alcançaram momentos dignos de uma caricatura humorística, tal a euforia e sobreposição de vozes que definitivamente não chegaram ao céu. Nos noticiários, muito por conta da edição feita pelos jornalistas, que pela natureza do seu trabalho acabam por salientar o excesso ou a tolice que vai acentuar o picante à notícia, fica-se com a ideia que os candidatos chegam a estas duas semanas que antecedem as eleições empenhados em por à prova a fidelidade dos cidadãos que já haviam decidido votar neles, e afugentar os poucos indecisos que procuram fazer uma escolha sensata. De facto, parece que até o mais cordato e sofisticado candidato, com uma camara de televisão à frente, perde a compostura e foge-lhe o pé para a chinela dificultando assim a descodificação da racionalidade que pudesse haver no discurso.

Dito isto parece-me que os portugueses se quiserem têm do seu lado informação suficiente para escolher os 21 deputados que os vão representar no Parlamento Europeu nos próximos quatro anos. De resto, sendo realista não vou ser hipócrita exigindo que toda a gente vote no dia 26 – se é para assumir desejos, confesso que são demasiados aqueles que eu gostaria de ficassem em casa. Contente ficaria eu que aqueles que pensam mais ou menos como eu, que desejam uma Europa garante de paz, que preserve a diversidade de nações e pluralidade de culturas que a compõem no reconhecimento das suas raízes comuns, se deixassem de desculpas de mau pagador e no Domingo descalçassem as pantufas para ir votar. É a esses, que entendem a Pátria como um legado antigo que hoje nos exige fazer das tripas coração para lhe dar um futuro, que eu apelo ao voto. Porque a Europa começa aqui, e eu quero o Pedro Mota Soares no Parlamento Europeu.

No prelo

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A fazer 10 anos no próximo mês de Outubro, está pronto para ir para a gráfica mais um número do Correio Real, e não posso esconder a emoção que vivo sempre que isto acontece - já lá vão 19 edições. Estabelecido o plano editorial há já algum tempo, foram as últimas 4 semanas as mais agitadas, a trabalhar com a Madalena Gagliardini Graça na paginação e grafismo, com o Nuno De Albuquerque Gaspar na escolha das fotografias, e com a Leonor Martins de Carvalho na edição e revisão dos textos. Outros amigos “muito cá de casa” foram ajuda inestimável neste processo exigente que é sempre realizado com poucos recursos. A todos aqui deixo expressa a minha gratidão.

Fazer das tripas coração

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Não tenhamos dúvidas de que a melhor resposta à perturbadora conjuntura que vivemos é a da participação cívica. Assumindo-me como um democrata céptico à maneira do pensador e historiador Alexis de Tocqueville (1805 — 1859), cujo avô foi guilhotinado na torrente sanguinária da revolução francesa a que os seus pais escaparam por pouco graças à queda de Robespierre, estou convicto de que o melhor antídoto contra as demandas populistas e revolucionárias é uma sociedade civil organizada e comprometida com a coisa pública. Tal premissa torna-se mais urgente nesta época de atomização social e perda de influência das tradicionais estruturas agregadoras da “nação cultural” em face aos desafios da inevitável globalização e da revolução tecnológica que alterou definitivamente as tradicionais formas de comunicação de massas, em si também elementos agregadores em decadência acelerada. Enfrentamos de facto tempos perigosos, ou “interessantes” como lhe chamam os chineses, numa salutar perspectiva de que as crises podem ser vistas como oportunidades.
O problema é que a conjuntura só poderia ser transformada em oportunidade se as pessoas tomassem em mãos as causas em que acreditam e por elas se mobilizassem de forma organizada.
Acontece que é dessa mudança de atitude que também depende, a médio prazo, a Causa Real, estrutura nacional assente nas Reais Associações, que mostra preocupantes dificuldades de atrair massa crítica para se renovar e, desse modo, para cumprir com eficácia os seus desígnios. Não basta termos uma Família Real empenhada e exemplar nos valores que transmite, como temos. Não nos basta a generosidade e dedicação a uma vida de serviço de que é exemplo o Senhor Dom Duarte, e não chegam os inspiradores passos dados nesse sentido pelo Príncipe da Beira, cujas recentes aparições públicas nos autorizam a projectar esperança para os que vierem depois de nós. A verdade, a crua verdade, porém, é esta: para que este nosso sonho tenha futuro urge conseguirmos atrair gente para a participação e compromisso com as nossas estruturas. É urgente invertermos a tendência para a indiferença de quantos remetem as suas convicções monárquicas para um espaço privado, ou quanto muito, as assumem através de bem-intencionadas, posto que inócuas, tiradas nas redes sociais – que resultam perversamente numa perigosa ilusão de participação. O grande desafio para os anos que se aproximam é o mesmo que clama o nosso bem-amado Portugal e uma Europa fracturada: que todos quantos se sintam interpelados em assumir algum protagonismo no seu destino, jovens e menos jovens, assumam a sua (mesmo que pequena) parte de intervenção no curso da História. A continuidade do movimento monárquico em Portugal, tão necessário à afirmação de valores que dão sentido e espessura à nossa comunidade, depende tragicamente de uma nova atitude dos seus simpatizantes e da sua adesão concreta e comprometida. E não vale a pena procurar fora de cada um justificações e culpados que legitimem a inércia e o conformismo. A pergunta a que temos o dever moral de dar resposta é só esta: o que é que eu posso fazer mais por aquilo em acredito?

Transcrição do editorial do Correio Real nº 18 

Tanta lata, para que te quero?

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Parece que a Nação encontrou finalmente em Joe Berardo um bode expiatório que personifica todo o descaramento e impunidade (a celebrada ética republicana) que o regime vem acalentando e que estamos condenados a pagar com juros por várias gerações. Talvez isso fosse realmente instrutivo se a indignação levasse a uma profunda revisão por quem de direito dos critérios de atribuição de comendas e demais lataria que outros impostores exibem ao peito. Bonito, bonito, era que a gente honrada na posse de tais nobilitações (que as há), num assomo de pudor e exigência estética as devolvessem à procedência, como parece que vai fazer o advogado José Miguel Júdice – ou não?

O dia em que o rei faz anos

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Feliz coincidência é o Chefe da Casa Real Portuguesa ter nascido a 15 de Maio, data em que veio a ser instituído o Dia Internacional da Família, uma efeméride que ganha importância num tempo de desagregação e decadência deste testado modelo de organização social que os Duques de Bragança tão bem dignificam. Ao Senhor Dom Duarte de Bragança aqui presto a minha homenagem e profunda gratidão pela incansável dedicação a Portugal e aos portugueses ao longo de toda sua vida. Muitos parabéns e longa vida, são os meus sinceros votos.

Foto daqui

Onde é que andamos com a cabeça?

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Sinceramente estou convencido de que políticamente combater a propaganda homossexual é tempo e energias perdidas, só serve à vitimização dos visados. Sou do tempo em que foi necessário enfrentar o preconceito e promover a tolerância na sociedade portuguesa. No final dos anos 70 com o entusiasmo natural da juventude ajudei a organizar no CNC de Helena Vaz da Silva umas jornadas sobre o tema, com exposições e conferências - orgulho-me disso. Acontece que o tema chegou estafado e redundante à actualidade - como se tivéssemos todos de levar escrito na testa o que gostamos (ou não) de fazer na cama. 

A minha esperança é que o assunto saia do topo da agenda por desgaste e cansaço das pessoas, e se ajuste à real importância que possui numa democracia liberal. As pessoas têm direito a viver as suas vidas como entendem e em paz, e eu espero que a prioridade (a moda) passe a ser a família natural e a consequente demografia... A atomização social e o Inverno demográfico são fenómenos complexos com consequências catastróficas e têm de olhados de frente. Antes que seja tarde.

 

Fotografia daqui