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João Távora

Algumas notas sobre a temática da comunicação e as eleições legislativas de 6 de Outubro

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Dentro de três meses vamos ter eleições legislativas e por isso são já muitos os militantes partidários nervosos com a hipótese duma redentora estratégia de comunicação. Desse modo, não se coíbem de dar sentenças, quase nunca sobre as propostas e ideias, mas quase sempre sobre os meios por eles considerados aconselháveis para chamar a atenção do povo para a bondade da sua sigla e do seu líder. Se aceitamos como verdadeiro o adágio popular “de médico e de louco todos temos um pouco”, o que diríamos se a profissão fosse o Marketing e a Comunicação...
Das opiniões que venho escutando, há uma com a qual estou plenamente de acordo: as arruadas e as incursões em feiras, em que o contacto directo dos protagonistas com a população serve para as câmaras e microfones registarem uns sound bites e uns faits divers, já deram o que tinham a dar. Afinal, quase sempre descambam em parangonas propícias a serem parodiadas pelos humoristas de serviço. Outra teoria que circula é a de que se deviam acabar com os outdoors, porque se trata de poluição visual injustificada, facilmente substituíveis pelas plataformas digitais  já massificadas. Neste caso não concordo, pois há que reconhecer que a utilização de cartazes se vem ajustando quantitativamente e qualitativamente aos novos tempos. Quem não se lembra das paredes das cidades repletas de camadas sobrepostas de cartazes semi-rasgados, das árvores e candeeiros cheios de pendões que mais pareciam sacos de plástico que, passados meses das eleições, já degradados pelas intempéries, se eternizavam deprimentes na paisagem urbana. Hoje, a propaganda de rua ou publicidade de exterior, não só vem caindo em desuso de forma natural, como se encontra regulada e delimitada em espaços apropriados, e nesse sentido a sua utilização ainda produz alguma eficácia, nem que seja se considerarmos os estratos da população mais envelhecidos que não acede às plataformas digitais. Tanto mais que é um dado empírico para qualquer profissional de que a comunicação nas redes sociais para ter um alcance massivo, requer mais do que fantasiosos algoritmos induzidos por pretensos “experts”: exige investimento financeiro que propague as mensagens partidárias com eficácia (sendo elas adequadas e bem definidos os públicos-alvo). Acontece que em Portugal uma lei eleitoral anacrónica proíbe a utilização profissional das redes sociais, tida como “publicidade comercial” (porque não se classifica do mesmo modo a utilização de outdoors produzidos e disseminados por empresas especializadas?), fazendo com que seja cada vez mais difícil passar as propostas políticas concorrentes para os seus eleitorados, principalmente às camadas mais jovens, que como é sabido não frequentam os meios de comunicação tradicionais e desse modo vivem cada vez mais divorciadas da realidade à sua volta. Não sendo possível a transição da velha propaganda para o modo digital por via desta lei absurda (repare-se na completa irrelevância em que se tornaram os velhinhos Tempos de Antena nas rádios e televisões generalistas), corre-se o risco de não se obter uma percepção plena do acto eleitoral em perspectiva, como era auto-imposto pelos métodos “poluentes” usados no século passado, muito menos quais as ideias em discussão, com consequências inevitáveis na abstenção, especialmente jovem.
Para finalizar, umas breves palavras sobre a mensagem política. Sem um conteúdo claro, atractivo e coerente, de nada servem as ferramentas e a sofisticação dos meios disponíveis. Para o seu sucesso, as estruturas partidárias deveriam recorrer à colaboração de profissionais experimentados, que com um olhar exterior e desapaixonado estão habilitados a impedir demasiados tiros nos pés e a mitigar as consequências dos inevitáveis disparates que a excitação da contenda favorece.

Publicado originalmente aqui

Um sentido para a vida

Era uma vez uma pessoa que, para não se maçar muito, passava a vida a matar o tempo embrenhada em toda a sorte de jogos e paciências. Foi já no fim da vida, não sem um leve sentimento de frustração, que percebeu que fora bem sucedido: já lhe faltava pouco tempo para matar.

Festa da família cristã

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No passado Domingo na Quinta das Conchas ao Lumiar decorreu durante o dia a "Festa da Família", uma jornada com actividades diversas organizada pelo Patriarcado de Lisboa que contou com a participação de vários movimentos católicos e culminou numa missa campal presidida pelo Cardeal Patriarca que reuniu centenas famílias e onde se abençoou cerca de 200 casais que celebravam este ano 10, 25, 50 e 60 anos de casamento.

Estranha é a invisibilidade mediática deste acontecimento, pela sua relevância e grandiosidade, tanto mais numa conjuntura em que tanta falta faz evidenciar a fecundidade do perene modelo de família cristã que todos sabemos vai rareando e cedendo à hegemonia da cultura individualista e hedonista. Desconfio que estamos (alegremente) a cavar a sepultura da nossa civilização.

 

Fotografia daqui

Dia de Portugal sempre!

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Claramente uma improbabilidade geopolítica nascida há quase 900 anos, Portugal é um dos Estados Nação mais antigos da Europa, e concedo não padece de uma crise identitária ou careça de especial esforço de afirmação patriótica. Talvez o facto de sermos esse “dado adquirido” explique porque razão tratamos tão mal os nossos símbolos e a nossa História, a qual quase ninguém conhece, assim como os seus heróis, principalmente se não se distinguiram a jogar à bola e por azar morreram antes de haver televisão. Assim, como uns parolos de geração espontânea, autorizamo-nos a refazer a cada momento os nossos símbolos, de que a república de 1910 encarregou-se impiedosamente decapitar os principais, para simular uma revolucionária fraude a que chamaram “refundação”. Aqui chegados, importa que não desistamos de fazer do Dia de Portugal um sobressalto sobre aquilo que somos, de onde viemos, e principalmente o que, como comunidade, ambicionamos para os nossos netos. 

 

PS.: Há muitos anos que não ouvia integralmente um discurso das cerimónias do 10 de Junho como aconteceu hoje com o de João Miguel Tavares. Ouvi tudo. Se gostei? O que eu gostava que os meus filhos também o tivessem escutado...

Amanhã jejua o preto, ainda bem que não é hoje! *

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Há dias, no parque de estacionamento do ginásio que frequento, um automóvel cor-de-rosa, que exibia bem visível na traseira um autocolante contra a exploração de petróleo na costa portuguesa deixou-me a pensar…  Afinal os valores ecologistas da feliz proprietária (presumo que fosse uma senhora) daquela viatura acabavam nos limites da nossa fronteira, não prescindindo ela de se locomover num veículo com motor de explosão, com carburante importado de terras recônditas. É como aqueles que se insurgem contra a exploração de lítio na sua freguesia, mas que não prescindem de o usar no telemóvel de última geração, e quem sabe até ambicionam ter um carro de motor eléctrico. Este é o padrão adoptado pelas nossas crianças que, massacradas na escola com o aquecimento global, vêm para casa com intenções de deixar de beber leite e proteínas animais mas não prescindem de um duche de quinze minutos, e toda a sorte de artefactos electrónicos e viagens se possível de avião para os mais exóticos destinos. É difícil educar…
A maior parte dos fariseus do aquecimento global, talvez não saiba que os grandes alertas ecológicos acerca dos plásticos, da poluição e das suas consequências têm quase 50 anos (esta bela canção de Peter Gabriel sobre a subida dos níveis dos mares é de 1977). E para lá duns quantos excêntricos, poucos foram aqueles dispostos a prescindir das comodidades que consomem o nosso planeta, e desde então tem sido sempre a "piorar": aquecimento no inverno, ar condicionado no verão, no mínimo dois automóveis à porta de casa, sem contar com a interminável parafernália de objectos descartáveis que transbordam todos os dias nos caixotes de lixo da nossa rua. E dizem-me que há por aí uma criancinha em tournée a avisar-nos de que o mundo está em perigo. Ontem, uma notícia do Observador referia que talvez a civilização se venha a extinguir em 2050 por causa das alterações climáticas (que evidentemente são culpa de Donald Trump). Perante a incoerência que grassa na cabeça dos recém-convertidos ambientalistas, desconfio que o que eles querem é que seja o governo a obrigar-nos a mudar os hábitos de consumo, que nos proíba a todos de andar de automóvel, nos obrigue a andar de transportes públicos, a desligar os electrodomésticos, a não viajarmos para muito longe de casa (de preferencia de bicicleta), e a fazer a barba com a navalha do bisavô com cabo feito de osso.
Agora a sério, antes de exigirem tirânicas “políticas” milagrosas vindas do além (que ninguém vai querer pagar), o que é que cada um de nós está disposto a prescindir em favor da sustentabilidade da nossa Casa Comum?

 

* adágio que o meu pai usava para confrontar os filhos quando adiavam tarefas e deveres. 

Efemérides e a mais nobre causa

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Reparei há dias que por esta altura faz dez anos que me envolvi nas lides monárquicas, a convite do saudoso João Mattos e Silva. Foi num almoço numa tarde destas nas Amoreiras que o João e o Nuno Pombo me desafiaram a passar das palavras aos actos, para se reerguer a Real Associação de Lisboa que vinha duma crise complicada. Poucos meses depois estávamos a publicar o 1º número do Correio Real e estreávamos um blogue. Então, estávamos a um ano do centenário da república, o apelo era desafiante. Nesta empresa, com mais turra ou menos turra, envolvido em diferentes direcções, o facto é que a minha vida nunca mais foi a mesma: alimentei enganos e ambições, ilusões e pretensões, ajustei.me, sempre ocupando aquele lugar onde se esconde o trabalho, muitos projectos por concretizar, só possíveis quando nos sabemos bem acompanhados. Durante este tempo, para casa nunca levei nada a não ser o orgulho de militar na mais nobre das causas, precisamente porque o que tem para nos oferecer é a noção de que fazemos falta (mal de nós quando não tivermos a quem servir), que este sonho de um Portugal que emerge dos confins da História e encarna em figura de gente, não morre.
Entretanto a Real Associação de Lisboa no passado sábado celebrou o seu 30º aniversário com uma inesquecível festa na Lourinhã. Gratos ficámos todos para com aquelas gentes pelo acolhimento, em especial os voluntários envolvidos na realização desta jornada que permanecerá para sempre na nossa memória. Venham de lá os anos que forem necessários para cumprirmos o desiderato do reconhecimento do rei dos portugueses. Para que, quando aí chegarmos, com a consciência tranquila fecharmos finalmente as portas e voltarmos para casa.