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João Távora

Postais de férias 2

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Não há populismo mais descarado do que o daqueles que prometem, já não apenas salvar os portugueses, mas salvar o planeta. A primeira promessa é definitivamente uma completa utopia.

Postais de férias 1

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Tive uma ideia: para ganharmos qualquer coisinha de vez em quando mudamos todos para o PS e formamos uma tendência. Talvez assim, o que é que acham?

Do pessimismo

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“A doutrinação é a pedra angular de toda a actividade politica, não só porque ela contém em si a garantia da expansão de princípios, como também porque só mediante ela é possível criar vontades decididas e convicções capazes de dar corpo aos princípios abraçados. É da adesão das inteligências mais do que das inclinações sentimentais, que há-de resultar a profunda transformação em geral desejada e considerada indispensável para a redenção de Portugal”.

Temo que esta coerente formulação de António Jacinto Ferreira, fundador e director do Jornal “O Debate”, o mais relevante órgão de comunicação monárquico que subsistiu com grande tiragem entre 1951 e 1974 quando após a revolução foi extinto pelo MFA, não passe afinal de um “wishful thinking”. Só isso justifica que toda a produção intelectual de uma excepcional geração de grandes pensadores e filósofos políticos do século XX português como Jacinto Ferreira, João Camossa, João Taborda, Francisco Sousa Tavares, Ribeiro Telles, Barrilaro Ruas, Mário Saraiva, António Sardinha, Hipólito Raposo, Pequito Rebelo, Almeida Braga, Alfredo Pimenta, e Alberto Monsaraz entre outros, tenha caído no quase completo esquecimento, e à qual urge fazer justiça num país que a cada dia mais se afunda no mais cínico niilismo sócio-existencial. Cada um por si tiranizado pelo curto prazo.

As pessoas livres são difíceis de controlar

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A razão porque a oligarquia ambiciona organismos intermédios frágeis e hostiliza comunidades naturais livres e robustas (a família por exemplo) é por medo de perder o controlo da agenda política que lhe convém. 

"Só o Estado construído sobre as comunidades naturais e sobre a radiação que elas difundem vê o seu poder referido à justa medida. Pelo contrário, todo o Estado sem sociedades é axiomamaticamente um Estado coercivo, policial, a armado de um arsenal de leis e regulamentos encarregados de dar sentido às condutas imprevisíveis do indivíduos. A sua tendência para o totalitarismo é directamente proporcional ao desaparecimento das comunidades naturais, à ruína dos costumes, ao desastre da educação."

Jacinto Ferreira - In Poder Local e Corpos Intermédios - 1983

Rabos de saia

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Feministas de todo o mundo, tende cuidado com o que desejam, a liquidificação do “género” igualitário pode mesmo realizar-se. Afinal os homens a usar saia e perfumes doces, peritos na roupa da moda, a arranjar as unhas, corpo deplilado e muito amiguinhos das mulheres é uma "construção cultural" que ameaça fazer caminho, na medida inversas em que a virilidade é amesquinhada e confundida com a grosseria. Excitante não é? Reprimidos dos seus impulsos amorosos os homens do futuro prescindirão de seduzir a própria mulher, não mais usarão Old Spice ou irão com os amigos ao futebol, obstados de falar grosso e beber umas imperiais numa tasca barulhenta. Rapazes, queredes mesmo viver afroixados num mundo comedido e harmonioso como uma música de Richard Clayderman ou um cabeleireiro de senhoras, em que o 007 será uma miúda assexuada e pacifista?
Não liguem, isto tudo é fruto da minha delirante imaginação, estava a brincar!

 

Fotografia daqui

Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade

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Quando há cinquenta anos Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram a Lua eu tinha sete anos e estava em Milfontes de férias. Nessa noite morna de Verão, como grande parte dos habitantes da vila, desci com os meus pais ao Café Miramar na Barbacã, para assistir na televisão ao acontecimento em directo. Não mais me esquecerei da emoção vivida, aquelas imagens difusas e misteriosas, as palmas, as interjeições e efusivos comentários dos adultos. A partir daquela data seguíamos todas as missões Apollo até à última em directo na televisão. Naqueles anos esta temática dominava os brinquedos da moda, dos mais sofisticados aos brindes dos gelados.
Imagino que a chegada à Lua tenha sido o maior acontecimento histórico da humanidade sucedido na minha já longa existência. Sinto-me até mais moderno que os meus filhos que, não tendo testemunhado este feito, jamais aprenderam a encantarem-se à noite com a imensidão do céu, a brecha pela qual nos é permitido vislumbrar o universo infinito, que é uma metáfora de Deus. Pela minha parte eu continuo a imaginar com entusiasmo como será a grande aventura da expansão humana para o Espaço.

A aventura da Apollo 11 pode ser seguida em directo e em "tempo real" aqui

As contas fazem-se no fim

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Parece-me que já vi este filme algumas vezes. Com o prenúncio de um resultado histórico das esquerdas, que arriscam em Outubro alcançar 2/3 dos lugares no parlamento pela primeira vez desde o 25 de Abril, a direita a dois meses da campanha eleitoral entretém-se furiosamente à caça da própria cauda. São indisfarçáveis as contagens de espingardas, os julgamentos e distribuição de culpas que escapam entre dentes dos barões, sargentos e soldados que gravitam neste espectro político. Por exemplo, a  liderança e os actores principais do CDS passaram de bestiais a bestas, surgem crenças messiânicas, e voltam a ser invocadas as maiorias silenciosas adormecidas desde 1975, eternamente escondidas no espectro da abstenção. As razões apontadas para o anúnciado descalabro (uma profecia auto-realizável) são muitas: há quem diga que pagamos o preço duma má governação durante a Troika, que não há projecto nem mensagem,  que a Assnção Cristas declarou-se a favor do casamento entre homossexuais, que falta um líder para o povo seguir.

O que há é uma conjugação extraordinária de circunstâncias negativas, por demais evidenciado nas eleições europeias; e o prodigioso erro na questão dos professores não explica tudo, há que considerar o histórico não muito distante: houve a humilhação da direita em 2015 (que não chegou à maioria porque com os anos de chumbo do resgate perdeu a sua quota de funcionários do Estado e seus familiares) por uma coligação inimaginável dos socialistas com a extrema esquerda que arrefeceu de forma radical a conflitualidade social, que evitando agitar em demasia as águas (reformas) apanhou boleia da inevitável retoma e abrandamento da austeridade... e o diabo não veio, que a Europa nos proteja. 

É em consequência destas fragilidades que se assiste, a par com um fenómeno meramente emocional de desmotivação, a um perigoso fraccionamento da direita em novos projectos mais ou menos pessoais mais ou menos ideológicos. Os liberais já não querem nada com os conservadores, que cortam com os democratas cristãos que viram costas aos sociais-democratas. E há os oportunistas.  

Mas de nada serve ter razão antes de tempo. A dinâmica para ser vencedora deveria ser exactamente no sentido contrário, de unidade, para uma alternativa clara ao fado do socialismo. Acontece que um partido vencedor terá sempre de ser uma federação de opiniões que concorram entre si sem se anularem. Afinal a pureza ideológica que muitos reclamam é um sinal de perigosa decadência, simplesmente porque tal coisa não existe, e quando e existir certamente será proveniente dos últimos dois militantes em véspera de uma cisão. 

Por agora há que fazer das tripas coração e evitar uma humilhação à direita. Os próximos meses serão decisivos no alerta e na mobilização contra uma esmagadora hegemonia da esquerda que torne o ambiente do país ainda mais fracturado e irrespirável. As contas fazem-se no fim.

Liberdade de imprensa

"A redacção de O Liberal (Partido Progressista), tendo sido insultada pelo sr dr. Eduardo Souza, director do Diário da Tarde (Partido Regenerador), entendeu dever desforçar-se. Havia quatro campos à escolha: - o tribunal judicial; - o tribunal d' honra; - o duello ; - o desaggravo pessoal. O tribunal judicial foi logo posto de parte - era ridículo. O tribunal d' honra era impossível com o sr dr Eduardo de Souza que é um desqualificado. O duello, pelos mesmos motivos, egualmente impossível: um duello, que em Lisboa tem muito de ridiculo, no Porto era decididamente ultra-cómico, e com o Sr. Eduardo de Souza humilhante. Restava-nos o desforço pessoal. Tirámos à sorte e a sorte designou o redactor Alexandre de Albuquerque. Partiu para o Porto com o firme proposito de cumprir briosanmente o que lhe mandava a sua honra profissional e pessoal
Os factos deram-se taes como os contou o nosso correspondente, em seu telegramma de hontem, que de novo transcrevemos: "Porto, 6 - 1 e 17 da tarde, O Liberal galhardamente desaffrontado. Às 10 horas e meia chegou dr Eduardo de Souza à porta da redacção do Diário da Tarde. O dr. Alexandre d'Albuquerque não o conheceu por causa das barbas e da gordura. O dr Souza prevenido pelo aviso de O Liberal, conhecendo o dr Albuquerque, fugiu para as escadas, denunciando-se. O dr Alexandre d'Albuquerque, completamente desarmado, correu sobre o dr Eduardo de Souza, que se achava armado de bengala, e derrubou-o a murro, saltando sobre elle e soccando-o fortemente, pretendendo o dr Souza arranha-lo, mas sem o conseguir. Accudiu o povo, segurando o dr Albuquerque, o que o dr Souza aproveitou para lhe jogar duas bengaladas que lhe fizeram uma ligeira escoriação na testa. O dr Albuquerque, soltando-se, derrubou outra vez o dr Souza, soccando-o e calcando-o aos pés, sovando-o fortemente. O dr Souza retirou-se para a redacção do Diário da Tarde. Povo felicitou o dr. Albuquerque."

Nós e os outros

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Anda praí um forrobodó que extravasa as redes sociais por causa dum artigo polémico da Maria de Fátima Bonifácio, de tal forma que o jornal que o publicou já veio meter os pés pelas mãos manifestando arrependimento e pedidos de desculpa à parte dos leitores que se amofinou com ele. O  Público fez bem publicá-lo: a censura ou a proibição é sempre um erro grave, para mais num debate que me parece tão difícil quanto importante. Ou seja, como poderemos em Portugal garantir a preservação dos nossos valores civilizacionais e ao mesmo tempo promover uma abertura a culturas em que a maioria dos seus elementos neles não se revêem? Em minha defesa, e antes que me comecem a apedrejar pelos motivos errados, deixem-me que vos diga que ao contrário da Maria de Fátima Bonifácio, eu não concordo com as quotas para as mulheres e acho que o maior problema de Portugal são os portugueses - basta conhecer a nossa História ou constatar a maioria de esquerda que por passividade nossa nos pastoreia há pelo menos duzentos anos - somos demasiado atreitos ao Síndrome de Estocolmo. Além disso, parece-me que temos muita sorte pelo facto de a maioria dos imigrantes que se por cá vêm instalando provirem das nossas antigas colónias, e assim sendo, maioritariamente de origem cultural cristã. E estou convencido que por essa razão, mais tarde ou mais cedo, não terão dificuldade em reconhecer os direitos e deveres que se lhes assistem como Seres Humanos. Já quanto à Revolução Francesa imagino que o assunto não os inspire grandemente, e devêmo-nos congratular por isso. De resto, constatar que há ciganos e outras comunidades que evidenciam dificuldades de integração é tão legítimo quanto admitir que há polícias racistas ou lisboetas racistas. Admito que sejam por enquanto casos pontuais que não devem ser exacerbados mas para os quais devemos olhar com realismo, por forma sabermos que políticas se empreender para mitigar a fractura e promover uma mais salutar assimilação. Porque me parece inevitável que as próximas gerações tenham de acolher e aprender a conviver com um cada vez maior número de imigrantes à procura daqueles trabalhos que por cá mais ninguém quer e do conforto que só o nosso modo de vida, com as nossas regras, proporciona. Não irá ser fácil, mas o pior que podemos fazer é alimentar tabus e evitar polémicas, por mais incómodas que nos pareçam. Há que olhar para os nossos vizinhos europeus e tentar aprender com os seus erros.

 

Ilustração: acampamento de ciganos nos jardins de Moulinsart, do álbum do Tintim "As Jóias de Castafiore", leitura juvenil que desconfio terá escapado à historiadora Maria de Fátima Bonifácio

É isto

"Fatuidade inútil seria alardear apelidos heróicos se em cada geração novos merecimentos os não ilustrassem."

Luís de Almeida Braga

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