© Homem Cardoso
A radicalização do debate e a polarização que se vem verificando na vida política em Portugal, se bem que de forma menos acentuada que noutros países europeus, remete-nos para aquelas que são das mais importantes características de um Príncipe na contemporaneidade, e que os monárquicos deveriam acalentar: a sua independência e imparcialidade. Como escrevia Francisco de Sousa Tavares no seu ensaio “Combate Desigual” de 1960, “(…) Nas grandes crises nacionais, nas épocas em que a Nação busca ansiosamente rumo, como é a nossa, só o Rei tem a virtualidade de se identificar com todos e com ninguém, de «servir», de realizar todos os ideais sem com eles se confundir, de consentir todas as esperanças sem que uma exclua ou mate necessariamente as outras.(…)”. É esta isenção que concede o privilégio ao Príncipe de erguer e preservar as pontes necessárias entre facções desavindas ou sensibilidades divergentes, de traçar com o seu passo o chão comum que permite os povos das nações civilizadas cooperarem e progredirem, apesar da conflitualidade que brota dos diferentes interesses e susceptibilidades que sempre existirão onde estiver a natureza humana e a sua busca de realização, individual e colectiva.
É evidente que nenhuma monarquia contemporânea sobreviverá ao esboroar radical dos consensos nacionais e de um mínimo denominador de coesão. A esse título, podemos "beber" e aprender com a postura conciliadora e abrangente, e com o exemplo de vida do grande doutrinador e incansável militante monárquico que foi Henrique Barrilaro Ruas (1921 – 2003), recentemente homenageado pela Real Associação de Lisboa através da edição duma antologia de textos intitulada “A Liberdade Portuguesa”. Damos profusa notícia dela e da cerimónia do seu lançamento neste número.
Uma nota sobre os 10 anos do Correio Real, projecto nascido em 2009 da iniciativa do nosso saudoso João Mattos e Silva, que tenho o privilégio de integrar desde a primeira hora. Os vinte números publicados até hoje reflectem, para o bem e para o mal, o pensamento e o trabalho da geração que nos nossos dias segura o estandarte da Causa Real. E este estandarte tem quase 900 anos. Não posso deixar de dar aqui vivo testemunho da minha gratidão a todos os que vêm contribuindo para tornar a nossa revista numa realidade.
A força dos monárquicos depende da sua capacidade de união em torno do essencial: a defesa da portugalidade corporizada no Príncipe e na nossa querida Família Real. A nós exige-se, como defendia o fundador e director do Jornal “O Debate”, de larga distribuição entre 1951 e 1974, António Jacinto Ferreira (1906 -1995), a promoção da boa doutrinação, “a pedra angular de toda a actividade política, (…) pois que é da adesão das inteligências mais do que das inclinações sentimentais, que há-de resultar a profunda transformação em geral desejada”. Enquanto não conseguirmos explicar a todos e a cada um dos portugueses por que é que Portugal será muito melhor encimado pela Instituição Real, estamos proibidos de baixar os braços. Só quando isso acontecer é que estaremos verdadeiramente realizados e seremos verdadeiramente livres.
(In Correio Real nº 20)