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João Távora

Meu querido diário (2)

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Se há um eleitorado à direita que não percebe que um deputado da Nação não pode expressar estados de alma à laia dum motorista de táxi embriagado, deixá-lo estar longe do CDS, um partido de tradição humanista, personalista e cristã. Se a proposta de Joacine é absurda e insultuosa para muitos portugueses, ela merece uma resposta política fundamentada e inteligente, como o mereceram muitas outras do mesmo calibre defendidas pela extrema-esquerda ao longo dos anos da democracia.

Nunca por nunca um conservador permitir-se-á descer o nível, perder a compostura, menos ainda o norte - que é atirar achas para a fogueira das disputas tribais. 

Meu querido diário (1)

1) Aqui do sofá (a contravontade, diga-se) tenho a dizer-vos que gosto deste modo antiquado de fazer política, de congressos electivos, com drama e galhardia, sem resultados pré-estabelecidos. Em que "directas" quer dizer noites sem dormir. Os jornalistas não gostam do Chicão? Pela minha já vetusta experiência isso indica que o CDS está no caminho certo - agora adoram o Pires de Lima. Entendam definitivamente uma coisa: quando não nos chamam fascistas é porque estamos a fraquejar. Os media tradicionais não descansam enquanto não formos progressistas ... ou "moderninhos".

2) Quantas vezes, um polícia grosseiro (ainda longe de serem padres ou psicólogos, nos dias de hoje são cada vez são mais bem-educados, diga-se) agarrou num pobre diabo branco apanhado “em falso” e no carro ou na esquadra lhe infringiu um memorável e generoso correctivo sem ser notícia? Muitas, garanto-vos. A questão está longe de ser “racial”, e para mim está no facto continuarmos a precisar das “forças da ordem” para nos comportarmos todos de forma instruída e mais polida. Em alternativa foquemo-nos nesse ponto.

No que andamos metidos...

“Assim como para assegurar a eliminação das classes económicas é necessária a revolta da classe mais baixa, o proletariado, e numa ditadura temporária a tomada dos meios de produção, também para assegurar a eliminação das classes sexuais é necessária a revolta da classe mais baixa, as mulheres, e a tomada do controlo da reprodução. Assim como a meta final da revolução socialista não era apenas a eliminação do privilégio da classe económica, mas da própria distinção da classe económica em si mesma, também a meta final da revolução feminista deve ser não apenas a eliminação do privilégio do homem, mas da própria distinção sexual em si mesma.”

Shulamith Firestone, 1970

"A ideologia de género entende-se como um conjunto de ideias anticientíficas que com propósitos políticos extirpa a  sexualidade humana da sua realidade natural e a explica somente pela cultura."

Agustin Laje

Eu e o 28º Congresso do CDS

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A minha irrelevância dentro do CDS é um facto, não levo a mal: não estarei no Congresso de Aveiro porque não consegui merecer um lugar elegível na lista única de delegados por Cascais, segundo me constou por não ter participado muito na vida da Concelhia. Tenho consciência de que outros compromissos que considero prioritários me limitaram a disponibilidade para a vida partidária, para a qual porventura não tenho vocação. Sem ressentimentos portanto. 
Resolvida essa questão, não posso deixar de manifestar a minha profunda preocupação com o aperto por que passa o meu partido de (quase) sempre. E tenho a confessar que fui daqueles que chegaram a se entusiasmar com Assunção Cristas, cuja estética política (e de vida) corresponde em boa medida à minha. Tenho dificuldade em compreender a dinâmica de derrota que no último ano se foi evidenciando, e acho que a “questão dos professores”, tendo sido um erro grave, não justifica o descalabro verificado, que porventura vinha de trás, dos tempos do resgate da Troika mas que estava mascarado. Gostava de deixar expresso que fico agradecido a Assunção Cristas pelo empenho e entrega que demonstrou na liderança do CDS nos últimos anos, e tenho dúvidas que nos tempos mais próximos apareça alguém com as suas qualidades políticas, intelectuais e humanas.
Quanto ao futuro, confesso que nenhum dos cinco candidatos pré-anunciados me consegue seduzir por aí além e receio que a travessia do deserto que espera a direita moderada - o ar do tempo não está para moderados e a inteligência sempre teve dificuldade de se fazer ouvir – signifique a dissolução do partido. Acho pouco plausível que surja uma boa surpresa em Aveiro mas estou disponível para admitir o engano. Para a semana ficarei por cá pelo Estoril a torcer pelos meus amigos, e vou rezar para que a disputa pelo partido não dê cabo do que resta dele (o espectáculo que se vem assistindo nas redes sociais não é um bom indicador). Afinal é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa.

Da moderação à boa doutrina

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© Homem Cardoso

A radicalização do debate e a polarização que se vem verificando na vida política em Portugal, se bem que de forma menos acentuada que noutros países europeus, remete-nos para aquelas que são das mais importantes características de um Príncipe na contemporaneidade, e que os monárquicos deveriam acalentar: a sua independência e imparcialidade. Como escrevia Francisco de Sousa Tavares no seu ensaio “Combate Desigual” de 1960, “(…) Nas grandes crises nacionais, nas épocas em que a Nação busca ansiosamente rumo, como é a nossa, só o Rei tem a virtualidade de se identificar com todos e com ninguém, de «servir», de realizar todos os ideais sem com eles se confundir, de consentir todas as esperanças sem que uma exclua ou mate necessariamente as outras.(…)”. É esta isenção que concede o privilégio ao Príncipe de erguer e preservar as pontes necessárias entre facções desavindas ou sensibilidades divergentes, de traçar com o seu passo o chão comum que permite os povos das nações civilizadas cooperarem e progredirem, apesar da conflitualidade que brota dos diferentes interesses e susceptibilidades que sempre existirão onde estiver a natureza humana e a sua busca de realização, individual e colectiva. 

É evidente que nenhuma monarquia contemporânea sobreviverá ao esboroar radical dos consensos nacionais e de um mínimo denominador de coesão. A esse título, podemos "beber" e aprender com a postura conciliadora e abrangente, e com o exemplo de vida do grande doutrinador e incansável militante monárquico que foi Henrique Barrilaro Ruas (1921 – 2003), recentemente homenageado pela Real Associação de Lisboa através da edição duma antologia de textos intitulada “A Liberdade Portuguesa”.  Damos profusa notícia dela e da cerimónia do seu lançamento neste número. 


Uma nota sobre os 10 anos do Correio Real, projecto nascido em 2009 da iniciativa do nosso saudoso João Mattos e Silva, que tenho o privilégio de integrar desde a primeira hora. Os vinte números publicados até hoje reflectem, para o bem e para o mal, o pensamento e o trabalho da geração que nos nossos dias segura o estandarte da Causa Real. E este estandarte tem quase 900 anos. Não posso deixar de dar aqui vivo testemunho da minha gratidão a todos os que vêm contribuindo para tornar a nossa revista numa realidade. 
A força dos monárquicos depende da sua capacidade de união em torno do essencial: a defesa da portugalidade corporizada no Príncipe e na nossa querida Família Real. A nós exige-se, como defendia o fundador e director do Jornal “O Debate”, de larga distribuição entre 1951 e 1974, António Jacinto Ferreira (1906 -1995), a promoção da boa doutrinação, “a pedra angular de toda a actividade política, (…) pois que é da adesão das inteligências mais do que das inclinações sentimentais, que há-de resultar a profunda transformação em geral desejada”. Enquanto não conseguirmos explicar a todos e a cada um dos portugueses por que é que Portugal será muito melhor encimado pela Instituição Real, estamos proibidos de baixar os braços. Só quando isso acontecer é que estaremos verdadeiramente realizados e seremos verdadeiramente livres. 

(In Correio Real nº 20)

 

Tempos cinzentos

Ainda sou do tempo em que se debatia uma revisão constitucional que retirasse ideologia ao regime e da discussão sobre limites da intervenção do Estado na vida das pessoas. Às vezes, à mesa do jantar, ainda recordo saudoso aos meus filhos incrédulos esses ideais ambiciosos. A dívida que nos sobrou da crise de 2011 não nos deixou só pobreza, tolheu-nos as aspirações.

A promessa de felicidade é uma bomba relógio

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Não tenho feitio para catastrofista, mas não consigo evitar sentir que no ocidente vivemos sobre uma bomba relógio - principalmente os países com uma economia mais débil como Portugal. Eu explico: se somarmos a fórmula venal de sustentação do poder nas democracias liberais com a promessa de “felicidade” para todos os indivíduos, um conceito subjectivo que como todos sabemos é objectivamente inalcançável, com o alarmismo cada vez mais estridente sobre as alterações climáticas – o medo é uma arma muito potente – cujo combate esconde a exigência da austeridade como inevitável modo de vida num Mundo que afinal não possui recursos ilimitados; poder-se-á entender o caldo que está em vias de se entornar por estas bandas (lembram-se dos primeiros anos do resgate da Troika?).
Se no hemisfério sul os povos ainda estão a sair da miséria, por cá poucos são aqueles que estão dispostos a mudar de vida de forma voluntária: basta atentar nas auto-estradas suburbanas de Lisboa e Porto diariamente engarrafadas até à noite avançada, ou como nos sugere Miguel Monjardino, no número de grandes aeroportos em construção na Ásia, na diferença abissal de venda de carros a gasolina com os eléctricos no mundo, e na expansão anual do tráfico aéreo acima de 6% na Europa para entender a discrepância entre o discursos e a realidade. Depois lembremo-nos como surgiu o fenómeno dos Coletes Amarelos em França, sempre na linha da frente no que a motins diz respeito, na sequência do anúncio do aumento dos impostos sobre os combustíveis fósseis e sobre as emissões de carbono. Os revolucionários começam sempre motivados pela ameaça aos seus privilégios, e assim como o transporte individual, o consumo desenfreado do descartável tomaram o lugar do bezerro de ouro da nossa civilização. Como se vai convencer toda a geração “mais bem preparada de sempre” a prescindir das suas viagens de 3 dias em “Low Cost” com que se entretêm enquanto não “assentam” para fazer família – e de caminho mitigar a inversão da pirâmide demográfica que sustenta o Estado Social? E se o travão ao consumo fosse coisa realizável sem muito sangue qual seria o efeito na economia e no emprego? O que me assusta é que já há demasiada gente a maquinar os planos para um novo “Homem Novo” que encaixe nas suas expectativas. Ah, sim é verdade: já me esquecia da felicidade que nos foi prometida em campanha eleitoral. Exijo ser feliz! Porque é que os políticos afinal não cumprem com a palavra dada?!