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João Távora

Como destruir uma marca

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O anunciado novo “rebranding” da marca CTT em que desaparece o clássico cavalo, cinco anos depois de ter despendido milhares de euros numa outra ´parece-me uma aberração. É exemplo acabado da vertigem parola com que em Portugal, quando não se sabe mais o que fazer, se finge começar tudo do zero para parecer moderno e eficiente ou associar a ilusão a uma determinada “geração espontânea”. Acontece que uma identidade é essencialmente uma construção que requer tempo, e é a antiguidade que confere confiança (o valor mais precioso), seja às instituições ou às empresas. Uma marca com quinhentos anos só tem a ganhar em exibir um símbolo que remeta para a sua História. Este aparente delírio, que irá custar uma pipa de massa em montras, vinis e estacionário, é justificado pela gestão dos CTT com a pretensão de que deixando cair o cavalinho, o público percepcionará a diversificação de serviços em que a distribuição postal perde importância. Enganam-se: a empresa vai gastar uma pipa de massa apenas para prescindir duma mensagem de confiança. De resto não me venham dizer que o problema está na privatização do negócio: é mesmo fruto da endémica saloiice do país, que de refundação em refundação, a única coisa que tem conseguido preservar é a mediocridade.

Publicado originalmente aqui

Derrotados

Estamos nesta vida terrena para sermos derrotados, nem que seja pela velhice e pela morte. Quanto maior for a nossa derrota mais intensa e virtuosa terá sido a nossa vida. Os governos que não nos venham prometer a felicidade.

I rest my case

Uma enfermeira que conheci nos anos noventa em Coimbra, num sitio de sofrimento, disse-me algo que nunca mais esqueci: é preciso respeitar profundamente os padecimentos de cada pessoa, pois a sua dor é sempre a maior e a mais insuportável de todas, porque é ela e mais ninguém que a sente na pele, com a lente da sua sensibilidade e fragilidades, circunstanciais ou não.
Este exemplo, ao contrário do que parece, serve para perceber a importância do olhar exterior para a pessoa condicionada e suas circunstâncias. E os equívocos que uma perspectiva individualista da questão encerra, mais ainda quando pode ser causa duma decisão irreversível. Muito menos delegá-la ao Estado.

Anti-racismo

A igreja de Pedro, herança de Jesus Cristo, no Vaticano, numa paróquia de Lisboa, numa aldeia de África ou em qualquer lugar da terra, é o maior exemplo de promoção e sucesso de convivência interétnica e racial que eu conheço. Orgulhamos-nos disso, pois.

Chega de escroques

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Ainda estou a tentar perceber quem André Ventura queria atingir com este tweet, para além do claro propósito de relativizar da atitude alarve da claque vimaranense ontem com Marega. Não percebo se fala como adversário político da deputada Joacine ou como comentador benfiquista ressentido da derrota de sábado na Luz e adversário do Porto desprovido de simpatia pelos seus atletas, ou se simplesmente está a usar a velha táctica dos esquerdistas quando se vêm apertados de chamar hipócrita aos seus adversários, género “vocês são todos racistas só que não assumem”. Pela minha parte quero relevar que me faz muita confusão a quantidade de pessoas que acham aceitável qualificar (enxovalhar) uma pessoa pela sua cor da pele ou pertença étnica. De resto, se este triste episódio não nos autoriza a classificar os portugueses de racistas (há por aí muita gente a esfregar as mãos de contentes com a hipótese), já temos informação suficiente para chamar escroque ao André Ventura. 

Semânticas

Ultimamente nas minhas teses e argumentações politicas tenho optado por substituir a designação de "esquerdistas" por "progressistas" pois estes últimos (os meus adversários) existem em todo o espectro partidário. Entenda-se "progressista" como um "activista do progresso", aqueles que acreditam na possibilidade da construção do "homem novo" e nos "amanhãs que cantam".

Agora queixem-se!

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Disseram-me que a Cristina Ferreira promoveu esta manhã na SIC um "debate" sobre a eutanásia em que os convidados eram todos a favor da dita - deve ter sido uma amena a cavaqueira, uma autêntica acção de promoção. Será que a intenção da entertainer era convencer das virtudes da antecipação da morte a sua audiência de reformados retidos em casa ou em lares de idosos, condenados a ver programas imbecis? É evidente que o debate está viciado, as cartas estão marcadas.
E todos os idiotas úteis que teimam em abster-se nas eleições mas agora vociferam indignados com a previsível vitória da eutanásia num parlamento com quase 2/3 de “progressistas”, da próxima vez lembrem-se que a participação cívica é algo mais que perorar nas redes sociais. Temos aquilo que merecemos.

Não vos passa um arrepio na espinha?

O Estado, esse grande educador das massas, qual polvo cuja cabeça descomunal reside em meia dúzia de ministérios em Lisboa, consegue saber aquilo que precisar sobre a vida de cada um de nós: onde estamos, o que fazemos, de que padecemos, e (principalmente) o que pagamos... com uma minúcia aterradora. É natural por isso que estejamos dispostos a delegar neles as regras e condições em que nos poderão ministrar uma injecção letal. Com isenção de taxa moderadora.
Não vos passa um arrepio na espinha?

Antes que uma tragédia aconteça

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Quem ingenuamente julga que a questão da violência das claques e da delinquência no futebol é um problema exclusivo do Sporting, está muito enganado. Porque será que o Estado que se quer meter em tudo, até na nossa vida privada, assobia para o lado nesta matéria tão urgente? Temo que o problema só seja encarado com seriedade quando acontecer uma grande tragédia - o monstro é incontrolável e se não for enfrentado, depois de matar alguém irá matar o futebol.
Aqueles que de boa-fé julgam que o problema do Sporting é Frederico Varandas deveriam pensar se haverá alguém com vontade e qualidades profissionais e humanas para o substituir, sabendo de antemão que se vai confrontar com os mesmos problemas da actual direcção: um clube em guerra civil e recursos tragicamente limitados para ombrear com os seus rivais. A reedificação dum Sporting vencedor (como o que existiu até aos anos 60) é um trabalho de hércules que exige não só um líder extraordinário (que não estou a ver de onde surja), mas de estabilidade para implementar uma estratégia vencedora (atravessar o deserto). Entretanto deixem a actual direcção terminar o seu legítimo mandato. Se no final tiver dominado as claques, devolvido o Sporting aos adeptos e as famílias poderem voltar a frequentar pacificamente as bancadas, já terá valido a pena.

Imagem - Heysel, Bélgica, 29 de maio de 1985 

Post publicado originalmente aqui

A morte fica-vos tão bem...

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A lógica da eutanásia, mais que a do aborto ou outra medida fracturante que vamos involuntariamente assimilando como "direitos adquiridos", está directamente ligada à atomização da sociedade e ao desaparecimento progressivo das antigas comunidades de proximidade, nomeadamente a família alargada, coesa e solidária. O hiperindividualismo significa a total exposição da pessoa, "página em branco", deslumbrada com tanta liberdade e “direitos”, aos caprichos dum Estado omnipresente e voraz. E depois não digam que não foram avisados.

A propósito ide ler a maravilha de texto que é este

 

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