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João Távora

Agora sobre coisas sérias:

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Este número do Correio Real a sair em breve foi preparado em tempos adversos, de grande consternação e incerteza por causa da crise sanitária. Neste período, vários foram os eventos da Real Associação de Lisboa adiados por esse imperativo, e por isso decidimos reforçar o empenho editorial. Fomos largamente compensados. Desta revista eu destacaria particularmente a primeira entrevista concedida pela Infanta D. Maria Francisca e, além das notícias habituais, dois esplêndidos ensaios, um sobre os 200 anos da Revolução Liberal, por Carlos Bobone; e outro sobre a redescoberta do sentido da instituição real por Pedro Velez.
A todos os que ajudaram a tornar este número possível os nossos sinceros agradecimentos, em especial nesta última fase à Madalena Gagliardini Graça, a Carlota Cambournac e Leonor Martins de Carvalho.

75 Anos de serviço

Obrigado, Senhor Dom Duarte de Bragança!

Trata-se sem dúvida de uma feliz coincidência o facto de D. Duarte Pio celebrar o seu aniversário natalício hoje que é Dia Internacional da Família: acontece que a nação é a forma mais alargada de família existente, e o rei, cuja genealogia atravessa a história rumo ao futuro, é o seu Chefe natural.
Ao Chefe da Casa Real Portuguesa desejo um feliz dia aniversário!

Por uma questão de decência

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Ontem voltei a Lisboa utilizando os transportes públicos e andando na rua como costumo fazer com gosto nas minhas voltas, para sentir o pulsar e usufruir dos encantos da minha cidade natal. Curioso é como comboios da linha de Cascais deixaram de ter revisores que foram substituídos por polícias aos pares a corrigir com voz grossa a forma como os passageiros usam a máscara. Estão impantes com o estado de excepção e ainda receei que descobrissem que a minha não é certificada.

A crise que temos vivido tem o condão de por a nu a profunda divisão entre a maioria da população que é privilegiada e os mais desfavorecidos, operários e trabalhadores não qualificados, que quando eram muitos foram pretexto para as causas populistas dos partidos de esquerda, que agora os abandonaram, entretidos com os conflitos de costumes. Para perceber o panorama que ontem encontrei no Cais do Sodré ao fim da tarde, é imaginar-se como era a estação antes do coronavírus, e subtrair os turistas, os estudantes, os reformados e alguns funcionários e profissionais liberais que não gostam de engarrafamentos no trânsito. O que sobra é um formigueiro de gente humilde, maioritariamente imigrantes, trabalhadores braçais, empregadas de limpeza, que enfrentam o medo do vírus com o pragmatismo dos sobreviventes. Foi isso que eu testemunhei ontem.

Digo-vos uma coisa: aconselho-vos vivamente a saírem quanto antes das vossas bolhas, para perceberem que não existe coisa mais reaccionária (classista) que o confinamento, o teletrabalho e o “distanciamento social” que afinal sempre foi capricho dos possidónios. Que as pessoas saudáveis retomem uma vida normal, pois é a melhor maneira de evitarmos a discriminação e impedir a miséria. É uma questão de decência.

Estado de sítio (26 e último)

Este país que tudo aguenta...

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Coronavírus hoje em Portugal – 25.702 casos, 1.074 vítimas mortais

Ontem retomei o trabalho no meu escritório em Cascais, agora que em casa as rotinas do novo normal estão estabilizadas. Os miúdos têm aulas virtuais com horários e a nossa empregada voltou ao serviço, que significa um considerável alívio nos afazeres domésticos.

Esta manhã à porta do meu escritório fui intimado a manter distância por uma senhora descabelada que passava na rua (bastante afastada diga-se) e que me tirou do sério. Desconfio que haverá muita gente que, sugestionada pelo disparatado cartaz da câmara municipal, não só "perdeu o medo de ter medo", como está a adorar a experiência. Outra impressão que me fica da vila de Cascais por estes dias é que, na ausência de turistas, e estando ainda encerrados ou a meio-gás a maior parte dos organismos públicos, o perfil da população com que nos cruzamos nas ruas é maioritariamente composto por imigrantes, gente que não se pode dar ao luxo do teletrabalho e menos ainda ao confinamento. Será esta pobre gente a maior vítima do coronavírus, suspeito. Nota-se que a maior parte das lojas, tirando os bares e restaurantes, já abriram as portas mas desconfio que os clientes ainda serão poucos. Cascais sem forasteiros não tem economia que lhe valha.

Uma nota ainda sobre o escândalo das celebrações do 1º de Maio na Fonte Luminosa, por decreto presidencial e votado quase unanimemente no parlamento, enquanto as autoridades expulsavam algum afoito cidadão que se atrevesse a ler um livro num banco do jardim: trata-se quanto a mim um paradigmático acontecimento, muito mais grave do que nos querem fazer crer. Aquele circo diz muito sobre a irrelevância da nossa sociedade civil e da tibieza das nossas instituições, que com demasiada facilidade se ajoelham às oligarquias do costume que nos toureiam e tomam por parvos. As desculpas esfarrapadas de Marcelo Rebelo de Sousa são confrangedoras e uma metáfora do país que somos – temos aquilo que merecemos. Sintomática é também a complacência da maior parte da comunicação social “de referência” e das suas principais personalidades que se submetem sem pudor à subterrânea lei dos donos disto tudo. Expulsaram eles os nossos saudosos reis para suportarmos, mansos e venerandos, esta porca miséria. Às vezes tenho vergonha de fazer parte desta charada a que chamam país. Que aguenta tudo, bem sei.

Com esta crónica termino esta série que intitulei “Estado de Sítio”, a modos que o meu testemunho destes tempos estranhos em que um vírus de medo nos contagiou a todos e que nos fez viver confinados nas nossas casas durante quase dois meses. Aqui chegados, sobrevivemos. Espero que os danos sofridos tenham valido a pena, porque suspeito que a mais assustadora peste é o que vem a seguir.

O que pensará a minha mãe doente, do seu 4 andar na Almirante Reis, e que não vê os filhos há quase 2 meses, a assistir a esta palhaçada toda?

Viva a república! *

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Talvez em termos de salubridade não advenha daqui mal algum. Mas a questão aqui é de regime, do favorecimento às suas oligarquias em contraste com as outras proibições: note-se que estão proibidas as deslocações entre concelhos ou celebrações religiosas.

* Este tipo de fenómeno de submissão aos comunistas estalinistas não acontecem nas democracias mais desenvolvidas.