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João Távora

Inoculado

Já cá mora a primeira dose da vacina. Uma máquina de vacinar está montada aqui no pavilhão de S. Domingos de Rana - antes assim. Éramos centenas avançando disciplinadamente em várias filas, da mesma faixa etária, com paragens em diferentes salas, sempre com publicidade estática de grandes dimensões à Câmara Municipal de Cascais, até acabar na sala de recobro com 100 cadeiras viradas para um ecrã onde o Carlos Carreiras paternal nos discursa coisas ininteligíveis intercalado com imagens de acções camarárias contra a pandemia, como a "fumigação" de passeios públicos - que como se sabe é o maior dos embustes no dito "combate" mas resulta em imagens sensacionais. Dou isso de barato, eu quero é que se vire esta página e que me deixem viver a minha vida em paz.

A mais merecida das homenagens

"Sporting Clube de Portugal é o título duma associação composta de indivíduos de ambos os sexos, de boa sociedade e conduta irrepreensível."

Artigo 1 (dos primeiros estatutos do Sporting em 1907)
 

Aqui chegados, é importante não esquecermos o caminho que aqui nos trouxe, e homenagear os resistentes que tornaram esta incomensurável alegria possível, resgatada a ferros de tempos sombrios e difíceis. De volta às grandes vitórias que fizeram do Sporting Clube de Portugal tão grande e popular, por estes dias de euforia lembremos todos os sportinguistas caídos nos últimos anos e aqueles que permaneceram até ao fim fiéis a este nosso emblema. Relembro em particular o meu saudoso tio Manuel de Castro, que me abriu os olhos para a beleza de um jogo de futebol no estádio, e principalmente me ensinou os valores da perseverança e do fair-play, que são as mais sólidas fundações do nosso clube.

Hoje deixemos para segundo plano uma equipa de jovens promessas, a maioria delas nascidas sob a bandeira das cinco quinas. Hoje pomos de lado o presidente vilipendiado mas corajoso que, herdando um conjunto de escombros, conseguiu inverter a decadência do nosso clube. Hoje não falarei do jovem e inspirado treinador, que liderou um balneário heterogéneo para as páginas mais douradas da nossa História. Hoje esqueçamos as claques predatórias e outras enfermidades que nos quiseram roubar a esperança de voltarmos a ser felizes. Porque hoje é dia de lembrarmos todos aqueles que não desistiram de estar onde era preciso nos momentos mais negros da nossa História, para resgatar a dignidade que nos tinha sido roubada. Que com obstinação nunca desistiram do Sporting naqueles dias tristes que pareciam ter chegado para sempre. Hoje é dia de homenagear os associados que se mantiveram firmes nas filas das assembleias, nos lugares do nosso estádio, naqueles tempos sombrios, sempre a apoiar o clube para que pudesse sobrevir um amanhã de esperança. É essa a alma enorme que nos distingue dos demais.

Foi essa alma enorme que eu aprendi com o meu tio Manuel que partiu cedo demais. Uma lição que espero deixar de legado aos meus filhos. O Sporting somos nós, a vitória foi nossa. Somos nós os campeões.

Publicado originalmente aqui

Já não é proibido proibir?

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Anda p'raí um escarcéu nas redes sociais por causa dumas “denúncias” de alegados assédios a figuras públicas como se fora uma campanha de sensibilização – não é razão para menos. Pela minha parte tenho a convicção de que haverá poucas atitudes mais cobardes e indecentes do que o assédio sexual, e que tal terá de ser radicalmente condenado socialmente. Fazer disso uma “guerra de sexos” é que não me parece que faça sentido.

A questão é que não é possível uma sociedade boa sem pessoas moralmente bem formadas. As soluções aos desafios sociais e humanos não se resolvem só com legislação, muito menos com ideologias. E hoje reconheço que, antes de nós cá em casa, já os meus pais travaram uma dura batalha contra o "ar do tempo", que nos anos setenta era da democratização da vulgaridade, não das virtudes. 

Uma coisa boa deste “movimento” é um certo cheiro contra-revolucionário que dele emana e que me agrada. Durante décadas tivemos a impressão que a boa educação, a delicadeza e o cavalheirismo, fundados em valores fundamentais como o “respeito” tinham caído em desuso, como que atributos considerados hipócritas, caretas, pouco viris. Será que é desta que os bons valores da boa educação voltam de novo a estar na moda entre as elites ou será que estou a perceber mal? Ou será esta indignação fogo fátuo, mero entretenimento de burgueses anafados com demasiado tempo livre, a importação de uma histeria colectiva?