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João Távora

Avante carneirada

Só com uma oposição temerosa e o conluio duma imprensa fraca e acrítica é que prevalece o mito de que Marta Temido foi uma heroína na gestão da pandemia. Acontece que nessa matéria fomos um dos piores países do mundo com mais infectados e com mais mortos com Covid19. Lembram-se do ranking diário propagandeado nas rádio e TVs que a este respeito diabolizavam Trump, Bolsonaro e os suecos enquanto incensavam a "resiliência" de Marta Temido, das máscaras e dos confinamentos?
Continuem com a mascarada que o caminho da nossa desgraça é sempre em frente, com maioria absoluta. Avante carneirada, continuem com a mascarada que a "democracia" angolana é que não presta.

De coração aberto

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Bolsonaro e Lula são lamentáveis excrescências democráticas e modernas de que ninguém civilizado em Portugal ou no Brasil verdadeiramente gosta de assumir "paternidade" histórica.
Bem esteve o presidente da Câmara Municipal do Porto Rui Moreira ontem em directo do Brasil na SIC a "desinfectar" essa aparente ferida, dando ecos da cerimónia da entrega por si ao Chefe de Estado brasileiro do coração do imperador D. Pedto I daquela grande e desconcertante nação inventada pelos portugueses - a única bem sucedida monarquia da América Latina. Este foi cedido pela edilidade no âmbito da relação entre dois estados soberanos e irmãos, não por especial favor a nenhum dos candidatos presidenciais. Pena que não tenha havido espaço na entrevista para a contextualização da pertença ao Porto da relíquia - são mais os brasileiros em romagem à Igreja da Lapa que os portuenses, que mal conhecem a história da sua Cidade Invicta na Guerra Civil entre liberais e tradicionalistas.
Já o estranho culto a um órgão humano conservado em formol numa espécie de cálice, é uma modernice idolatra. Os mais antigos só se ajoelhavam a Deus, nunca aos seus iguais. A história não é só progresso...

Coisas tontas que dão pano para mangas

Ainda a propósito dos preparos da D. Georgina: por estes dias, cai o Carmo e a Trindade porque Ronaldo quer ir viver para a Quinta da Marinha com a D. Dolores, a mulher e toda a ruidosa trupe, numa casa ostensiva que por lá está a constituir arrogantemente, paredes meias com o Club House dos Oitavos, a desinquietar a boa ordem das boas gentes deste condomínio de Cascais que não se conformam com a afronta. Consta que Ronaldo pondera a insolência de comprar o Club House, mas eu se fosse a ele pensava instalar-se noutras paragens: a riqueza por assim dizer pornográfica conquistada por si aos pontapés na bola não cabe na nossa mediocridade herdada.

Aos mais sensíveis convém lembrar que já nos anos 20 constituiu algum escândalo nas boas famílias de Cascais a chegada de Mary Cohen E. Santo à selecta Parada, "demasiado espalhafatosa e arrogante", ao que consta.

Ainda há quem acredite no progresso da humanidade?

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No outro dia vim aqui defender a honra de Sanna Marin, a laica e incauta primeira-ministra da Finlândia apanhada num vídeo indiscreto e condenada na "praça pública" por dançar desavergonhadamente numa festa qualquer. Desta vez é a fotografia de Georgina, a modelo e mulher de Cristiano Ronaldo, a rezar na basílica em Fátima, ao que consta acompanhada por seguranças e uma equipa de reportagem,  que está a chocar os fariseus e as alcoviteiras que pululam nas redes sociais - o Facebook não censura a imbecilidade.
 
Mesmo reconhecendo que Fátima é toda uma história de exibição de fé popular, que quanto a mim por vezes roça o paganismo, não deixa de ser um lugar de igreja, de acolhimento, a quem procura e reconhece pertença a Cristo e sua Mãe. Pelas amostras recolhidas, o puritanismo não é um exclusivo dos anticlericais, é também comum entre os mais devotos cristãos. Pela minha parte estou convencido que o caminho proposto por Jesus é de civilização social e libertação pessoal. Ou seja, como cristão prefiro mil vezes que as personalidades públicas frequentem o santuário do que o evitem. E depois, só Deus sabe verdadeiramente as razões profundas da mulher ali estar.

Querem mesmo participar no apedrejamento?

Bons costumes

Quando o Estado armado em religião laica se apropria da moral pública com a pretensão de criar cidadãos virtuosos, é natural que a coisa faça ricochete. Pelo caminho não mais iremos ter paz e ser livres, transformados em policias dos costumes dos outros. Quando o lugar privilegiado do Absoluto era dentro duma Igreja, sobrava muito mais sentido de humor. Abriram uma caixa de pandora, é o que é. Não foi por certo para isto que se fez o Maio de 68.

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Os pecados da Igreja e do Daniel Oliveira

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Mesmo conhecendo o seu enviesamento ideológico, deixa-me muito incomodado e perplexo final do primeiro parágrafo do artigo do Daniel Oliveira, publicado no Expresso desta semana, com honras de pág. 3. Diz assim: "(...) Mas os católicos que se sentem chocados com estas revelações têm, antes de tudo, de pôr a mão na sua consciência. Nada disto é surpresa. Porque o permitiram durante tanto tempo? Porque tiveram os denunciantes, fossem vítimas, familiares ou outros padres, de lidar com a indiferença ou incompreensão das suas comunidades? Com tanto ativismo para reprimir o sexo consentido entre adultos livres e impedir que se fale de sexualidade na escola, porque não se mobilizaram mais católicos para protegerem as crianças do abuso na sua própria Igreja?" É impressão minha ou ele acusa-me a mim (como integrante em diferentes épocas da minha vida em diferentes comunidades católicas) de cumplicidade pelo silêncio nos casos? Ora, nos anos mais recentes, o confronto com estas notícias tem sido para mim um profundo choque. Precisamente porque na experiência de vida que levo na Igreja - a ralação com padres, catequistas, movimentos, paroquianos - nada alguma vez me fez suspeitar que tais anormalidades pudessem acontecer. A minha estranheza só se compara com a revolta e tristeza que sinto com esses comportamentos que evidentemente não são padrão na igreja, que é a mensagem que o autor quer fazer passar. Como é que eu, e milhões de católicos como eu, podem ser acusados de cumplicidade? Ou porque Daniel Oliveira não conhece minimamente a dinâmica inorgânica da igreja ou por profunda má-fé. De resto, não servindo de todo de consolação, fiquemos com a frase final da crónica do Henrique Raposo na mesma edição do jornal: "quando nos revoltamos contra os pecados da Igreja, estamos na verdade a olhar para o nosso rosto reflectido num espelho".

Consolação

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Uma das palavras que mais gosto é “consolação” por causa dos seus significados. Lembrei-me disso, a banhos na praia do Medão, ou Supertubos como é conhecida agora por causa dos surfistas, a meio caminho entre Peniche e a Praia da Consolação. Esta, delimitada a sul por uma falésia é encimada por um forte com o mesmo nome, deve-o à Capela quinhentista existente nesta localidade de Atouguia da Baleia, dedicada a Nossa Senhora da Consolação. 
 
Analisemos então a sua semântica. Se “consolação” não significa exactamente Conforto, Felicidade, Prazer, Alegria, Contentamento ou Estado de Graça, pode-se associar a qualquer destes sentimentos. Mas é muito mais importante e presente que qualquer um deles: a consolação é uma sensação dinâmica, que é precedida de certa maneira por um estado de espírito negativo, associado a sacrifícios ou à ansiedade – pode ser inquietação, dor, medo, cansaço, etc., em manifestações mais ou menos intensas. É na sequência destes padecimentos que podemos ser agraciados por um momento de consolação, que naturalmente não significa que o mal que nos afectava tenha sido erradicado - "enquanto o pau vai e vem folgam as costas", diz o povo na sua crueza. Consolações são, no fundo, acontecimentos singelos da vida quotidiana: a notícia de que o nosso filho entra para a universidade, ou aquando num hospital recebemos a visita de um velho amigo. Mas também pode ser uma refeição feliz com a família e amigos, o término de um trabalho exigente, uma cerveja fresca num fim de tarde quente. Mas se é certo que um prazer pode ser um consolo, uma e outra são coisas bastante diferentes. Ouvir uma peça musical que gostamos muito ou saborear um pitéu, serão certamente prazeres sem caberem propriamente na categoria do consolo. Os consolos não se inserem na ordem dos nossos desejos carnais ou intelectuais, mas antes possuem um vinculo divino, são-nos inteiramente oferecidos - surpreendem-nos. Eu explico-me: é coisa mal-aceite na ordem histriónica vigente, mas absolutamemte incontestável, que a vida é essencialmente feita de padecimentos e consolações: uma consolação é o que nos impele a continuar a ultrapassar as dificuldades que o destino nos desafia diariamente. Consolação não se confunde imediatamente com alegria, que é um sentimento mais intenso, exterior, por vezes eufórico – a alegria é sedutora e mundana, já o consolo é espiritual e reflexivo. O máximo com que se exprime o consolo – a consolação não obriga à expressão - é com um suspiro ou talvez sorriso discreto. Porque raramente partilhamos um autêntico consolo, sem que o outro nos seja íntimo e cúmplice. É um consolo chegarmos a casa depois de umas férias agitadas, é um consolo chegarmos a casa depois de um dia intenso de trabalho, é um consolo fazermo-nos entender sobre um tema complicado. É um consolo uma palavra amorosa da nossa cara-metade ou o sono angelical do nosso bebé. É um consolo uns minutos de oração no silêncio de uma igreja vazia numa tarde de Verão. É um consolo terminarmos uma crónica sobre um tema que há muito tempo nos estava a inquietar e reclamava ser escrita.
 
A falta que nos fazem consolações...
 
Crónica dedicada à Tia Teresa de Castro Simas, que nos seus 87 anos de idade partilha comigo o gosto de reflectir e debater estes temas complexos e fundamentais.

O que aconteceu à canção francesa?

Nos meus tempos de juventude, o gosto musical era moldado pela música que os nossos pais ou tios ouviam no gira-discos, mas principalmente pela música que passava nas estações de FM em programas mais ou menos comerciais ou elitistas. Certo é que, aqui chegados, a música popular francesa desapareceu quase completamente do espaço público português. É verdade que ao invés temos mais e muito variada oferta nacional e a música popular brasileira continua a dar cartas, mas é estranho que a canção francesa se tenha eclipsado. Os novos modos de consumo não justificam tudo.

Cais de Alcantara, 1967

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Esta fotografia é por si só uma crónica "de época". É uma demonstração da antiga solidariedade "onde vai um vão todos" ainda hoje patente no meu ramo Castro. Tirada no cais de Alcântara em 1967 por ocasião da partida do Tio Nuno de Castro para a Guerra no Ultramar. Da esquerda para a direita temos: o meu pai de cigarro na mão (como sempre), a avó Xunchinha (Condessa de Castro), a Tia Teresa, a Tia Isabel (a ocultar a tia Mitó) e depois o Tio Manuel. Em baixo, ao lado da mão da minha mãe que segura (mais) um cigarro, está a Tia Mariana, irmã mais velha da minha avó. Sentado no passeio estou eu de frente para o meu primo Manel de Castro. À direita extrema está o senhor guarda a garantir a boa ordem. Lá atrás de tudo a ponte Sobre-o-Tejo, recentemente inaugurada. Do lado contrário, além do fotógrafo - que julgo seja a Tia Carmo mãe do primo Manel, estava um enorme paquete cheio de soldados a entrar e a acenar com lenços. Iam para a guerra defender a pátria. Era isso que se ensinava nas casas das boas famílias.