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João Távora

eDucar

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Gosto muito de etimologia, perceber a origem e componentes de cada palavra, como se essa descoberta me aproximasse da verdade e do sentido mais profundo das coisas. Por exemplo, recentemente descobri que na palavra Educar, se esconde o termo Duque. É com eDucação, nos aproximamos da idealização do Duque: a soberania, vocábulo que na sua origem grega “Douka” significa "Chefe", e na origem latina “Duce” significa "aquele que comanda".
 
Restam algumas dúvidas da importância da educação?

Sobre o what-aboutismo marxista

Se as televisões fossem alertadas a tempo de acorrerem a transmitir a tragédia dum barco furtivo repleto de migrantes a afundar-se (o que caracteriza o tráfico humano - esse sim um crime hediondo com demasiados adeptos no ocidente - é ser escondido, oculto, facto que dificulta o socorro nos casos de naufrágios), alguém acredita que os canais de notícias não nos ofereceriam um drama em directo para gáudio milhões de espectadores? E que desse modo surgiriam todos os meios civis e militares para um virtuoso resgate em directo? É difícil perceber porquê o caso do submarino, cuja expedição foi pública e propagandeada é diferente?

Quanto ao mais, considero uma virtuosa qualidade humana as pessoas ambicionarem superar-se, correr riscos, ir à Lua, subir aos cume dos Himalaias, ou às profundezas duma gruta. Às vezes corre mal, mas tiram-se ilações, corrigem-se procedimentos e aprumam-se tecnologias. O Homem em geral e o Ocidente em particular desenvolveu-se assim. Saímos das cavernas. Deixemo-nos de moralismos de pacotilha.

20 de Junho de 1998 - 20 de Junho de 2023

Bolota e João a.jpg

Sem repararmos, a tinta das paredes lá da casa, há anos escolhida a preceito num catálogo de infinitas tonalidades, empalidece de dia para dia. As cortinas e os sofás, um dia imaculados num enxoval de expectativas, arruçaram-se do uso. Há sempre outra torneira que de novo pinga e não veda. E aquele tapete qualquer dia também tem de ir a restaurar. Na caixa das memórias, as fotografias perdem cor, os bilhetes com sentimentos vividos, cartas e postais, ganham tons de pergaminho. São capítulos desta já antiga história. 

O tempo implacável, tudo desagrega tudo corrompe. Habituámo-nos a festejar os aniversários dos miúdos todos os anos, sem contar que a existência passa, sem que a possamos pausar. Para abarcarmos definitivamente aquela pele imaculada e aqueles olhos fundos e tão grandes, brilhantes de surpresa e expectativa, tão cheios como o céu, como a vida. 

Entretanto os tempos escamparam-se-nos por entre rituais… Vieram novos projectos, dias banais, muito trabalho e tantas estações. Com mudas de Verão e roupas de Inverno. Mas ressuscitámos sempre o amor, ainda mais quando o frio apertava. Fazendo das misérias as fortalezas, para não morrermos nem um bocadinho. Sempre atentos a juntar os pedaços, a compor e restaurar sempre o mesmo amor. Reinventando velhas harmonias, moldando uma obra divinal. Sem nunca desistir da grande utopia de vencermos o tempo e o mal. Sem nunca renunciarmos a ser felizes e gente maior.

De tudo isto, a miudagem não sabe, a publicidade não exalta; a literatura despreza e o poeta desconfia. Mas é com o amor antigo, batido pelo tempo e pelo conhecimento, que se alcança a mais sublime comunhão e gloriosa cumplicidade. O resto é propaganda enganosa, estéril sedução.

Celebremos, pois. Obrigado, Bolota, por estes 25 anos de aventura!

Porcos e racistas

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Oravamolaver: avaliar, julgar, privilegiar, condenar uma pessoa pela cor da sua pele ou etnia é racismo. Uma caricatura de um primeiro-ministro (rei ou clérigo), seja qual for a sua cor de pele, com um focinho de porco, é simplesmente mau gosto.

Hesitei muito a partilhar esta caricatura do rei Dom Carlos - um Chefe de Estado que admiro particularmente. Porque ao acontrário do que acontece com os republicanos, a maioria tornada socialista nos nossos dias, esta caricatura mexe com a minha sensibilidade - sou um institucionalista e um conservador. Certo é que há 120 anos a imprensa era mais livre do que a nossa, disso não tenham dúvidas.

(Im) Perfeição

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Os encontros e relações pessoais mais desagradáveis com que deparei ao longo da minha vida social e profissional deram-se sempre com aqueles indivíduos com uma autoconfiança desmesurada face às suas reais capacidades intelectuais. Numa relação de continuidade, obrigam-nos a um grande esforço de tolerância e autodomínio. Mais trágico é quando essa segurança não se faz acompanhar pela necessário calibre ético e moral. Estamos a falar do vulgar aldrabão que, se for dotado de uma esperteza acima da média, pode provocar muitos estragos aos seus semelhantes, e mais ainda se tiver enveredado na política. São pessoas que falam alto com frequência, com as certezas na mesma proporção em que lhes faltam escrúpulos. Numa análise precipitada, a mentalidade moderna igualitária favorece-os, mas, na verdade, mais cedo que tarde, a corrida de longo curso que é a existência acabará por fazer justiça. É uma intuição minha, que já vou para velho.

O problema da autoconfiança desmesurada é que ela com frequência impede um olhar panorâmico sobre um problema e, o que é pior, demasiadas vezes inibe a capacidade de se colocar no lugar do outro, anulando-o. A pressa de proclamar um veredicto também não ajuda. A complexidade da realidade é por natureza uma lição de humildade. A riqueza do olhar exterior resultará no mesmo. Por isso é que a insegurança e a dúvida são agentes de empatia entre as pessoas, que são uma amálgama de imperfeições. Um pequeno defeito físico pode até constituir um factor estruturante para uma personalidade mais empática, mais rica, mais inteira.

Esse é o fascínio da humanidade. Como um interminável e intrincado puzzle, com falta de peças e de desenho difuso em constante ajustamento. Pessoas que nunca mais acabam somos todos, a reclamarem olhos suficientemente curiosos e atentos para se deixarem seduzir. Como é que é possível não acreditar em Deus, num desígnio maior? O defeito, o erro, a precaridade revela-nos esse conceito de perfeição, um absoluto, algures.

Eu sei bem quais os pequenos arranjos que a minha pessoa precisava para ser mais perfeita, para que alcançasse superiores patamares de realização, talvez de santidade. Gostava de não me preocupar tanto com o olhar ou a voz dos outros, que às vezes me provocam arritmias e me embargam a voz que queria dizer tudo certinho. Gostava de saber ouvir melhor os outros, de ler mais, ter mais memória, ser mais rápido no pensamento, mais versátil na verbalização, como alguns advogados ou políticos que vemos na televisão.

Não estou é nada certo que a minha gente gostasse dessa pessoa. Estamos bem assim...