O caminho para a glória
A estrondosa vitória alcançada pelo Sporting frente ao arqui-rival Benfica e a conquista de um lugar final no Jamor a 17 de Maio próximo, além da motivação para o que resta da temporada, tem como consequência o reforço da imagem do treinador Paulo Bento, não só pública como interna. Espero que isto não seja uma má noticia para nenhum sportinguista.
Esvazia-se desta forma a tese da incapacidade do técnico leonino na moralização da sua jovem equipa, reclamada por uma facção de adeptos e opinadores profissionais. Os mesmos que reclamam uma nova estratégia para a gestão do clube de Alvalade, uma redentora direcção que devolva ao clube a tradição de glórias ancestrais.
Facto relevante é que eu, com quarenta e seis anos, não me lembro dessa mítica era. Lembro-me antes de obscuras administrações, sem estratégia ou desígnio, de João Rocha a Jorge Gonçalves, passando por Cintra e outros equívocos. A verdade é que há mais de quarenta anos, entre um campeonato ou uma taça doméstica, os resultados desportivos nunca foram extraordinários. E o que dizer das politicas de contratações, que salvo honrosas excepções resultaram quase sempre medíocres e desastrosas para os cofres do clube? Durante a longa travessia do deserto dos anos oitenta e noventa, enquanto o património definhava, os treinadores não aqueciam lugar e as jovens promessas abandonavam do clube a “preço zero”.
Hoje prepara-se um Congresso do Sporting, ideia louvável para promover o debate dos resultados e falhanços recentes, uma oportunidade para se repensar o futuro. Um futuro que se antevê difícil, dado os recentes aumentos do custo do dinheiro, e uma implacável crise económica internacional que se instala. Tudo factores que pouco propiciam aventureirismos e mistificações.
O êxito e a fortuna, decididamente, são bens escassos. Eu sou um conservador nato e na gestão de qualquer projecto não acredito em soluções miraculosas, ou “amanhãs que cantam”. Sem cedências ao conformismo, acredito na perseverança fundada numa estratégia racional e de médio ou longo prazo. O futebol quanto a mim deve ser jogo, paixão e delírio, mas só no campo e nas bancadas. Para que gloriosos jogos como o de quarta-feira não acabem jamais.