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João Távora

Em nome da Liberdade

O que significa a indiferença global, perante esta carta de Rosa Coutinho a Agostinho Neto nos sombrios anos revolucionários? Não deveria o documento originalmente publicado no livro “Holocausto em Angola”, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega 2007) e divulgado por António Barreto num jornal de referencia nacional, originar um séria investigação e debate nacional? Atente-se nas palavras que transcrevo da dita carta: “ Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela”.

Em 1975, com catorze anos, eu militei como podia e sabia, contra o impetuoso processo revolucionário totalitarista que se desenrolava sob a liderança do PCP. Durante a ponte aérea daquele quente Verão de 75, no convívio com os retornados que acolhíamos distribuindo bens de primeira necessidade à chegada a Lisboa, muitas e desesperadas denuncias nos eram sussurradas com desespero. Assim, nenhum destes casos denunciados me é totalmente estranho.

A crónica de Ferreira Fernandes hoje no Diário de Notícias tocou-me como um violento soco na barriga: porque eu próprio a aceitei como falsa “porque sim"? Porque de facto a indiferença foi generalizada. A “intelligenzia” dominante criou e alimenta os seus Tabus, Vacas Sagradas e Bodes Expiatórios. Quando nos preparamos para celebrar uma vez mais o 25 de Abril, convém lembrar que sem a verdade não há efectiva Liberdade: sobram a alienação e o oportunismo que, alimentadas pelos poderes, constituem a mais vil das opressões.

 

 

 

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