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João Távora

A bomba relógio


 


Conheço pouco mais do que os próprios factos: existem milhares de prédios devolutos e degradados em Lisboa a aguardar por uma política eficaz que reanime o mercado e salve o centro da cidade do destroço em que se tornou. O valioso património histórico e arquitectónico está nas mãos de senhorios arruinados, ambiciosos empresários e do estado português.

Conheço quem tenha batalhado teimosamente durante longos anos com intenção de recuperar para si um pequeno imóvel de habitação algures na Lisboa antiga. Talvez por ingénua honestidade (?) o processo se tenha arrastado sem que tenham cedido às pressões da burocracia onde me garantem houve pedidos insinuados de “luvas” como factor decisivo para a celeridade da tramitação dos papéis e projectos.


Muito se prometeu, muito se escreveu e tudo já se disse sobre este deprimente assunto. Fruto de uma ausência de estratégia, Lisboa explodiu para a periferia deixando um buraco negro ao centro, fenómeno que, em conjunto com a comprovada estagnação demográfica, não augura boas perspectivas para o mercado imobiliário. Assim sendo, parece-me que já chega de debates e comissões, estudos e pareceres, é tempo de arriscar e agir: a viabilização da cidade não requer uma reforma, requer uma revolução, um “plano Marshall”. Espero que António Costa e toda a edilidade reconheçam que é a sua própria justificação que está em jogo, que o cargo lhes poderá arder nas mãos, quando um dia destes o centro da cidade, arruinado e deserto, começar a ruir como um castelo de cartas. Já faltou mais.

 

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