Mens sana in corpore sano
Por causa duma vida sedentária e dos anos de idade que se me acumulam imparáveis, há uns meses que sou freguês assíduo dum ginásio aqui ao pé do escritório onde trabalho. Estou nisto sem ceder à irritante terminologia autóctone: recuso-me a chamar "PT" ao professor e insisto na designação “ginástica”, em vez de “treino”, pois eu não passo dum modesto quarentão burguês, com tendências intelectuais e que certamente nunca será um verdadeiro sportsman.
Apesar das cada vez mais acentuadas peladas no meu couro cabeludo, dos sulcos de expressão que alastram na minha cara, e das manchinhas que já se adivinham nas costas das minha mãos, o facto é que me sinto feliz e fresco que nem uma alface: mens sana in corpore sano, faz todo o sentido pois então.
É com esse fito que três vezes por semana corro como um hamster num tapete rolante, pedalo infindáveis quilómetros para lado nenhum e empenhadamente remo a seco contra uma maré inexistente. Além disso, fascinado, tenho descoberto preguiçosos e ocultos “grupos musculares” que exercito vigorosamente para que nunca passe vergonha se um dia tiver que deslocar um piano de cauda às costas.
Quando no ginásio observo à minha volta dezenas de personagens de todos os sexos, mais velhos e mais novos, mais ou menos excêntricos, a fazer tanta, mas tanta força, pergunto-me se será mesmo de todo inviável o aproveitamento dessa extraordinária energia gerada. Não poderiam os aparelhos devidamente adaptados alimentar a electricidade às instalações? Sem dúvida eu ficava mais satisfeito.