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João Távora

Lisboa Agosto


A grande cidade torna-se mansa em Agosto; adivinha-se-lhe um pedaço de silêncio no asfalto subitamente deserto e tremeluzente do calor. Os poucos que ficaram por conta dos serviços mínimos partilham a calçada com os turistas, de guia na mão e em calções de caqui. Pela rua afora gozo esta descompressão quando sou resgatado à realidade por um táxi envelhecido que passa rotativo e ribombante, num rasto de fumo negro. O estalido dum bater de asas atrai o meu olhar para as pombas recolhidas à sombras num beiral. E nem está muito calor como nos ameaçaram os meteorologistas na primavera.  


De qualquer modo, estamos em Agosto, os jornais e as revistas sobejam amontoados no quiosque junto à avenida. Hão-de faltar algures no litoral a rebentar de forasteiros bronzeados e barulhentos... A vendedora folheia absorta uma revista do coração e nem dá por mim a espiolhar o interior de um jornal que não vou comprar. Ali ao lado um velho engraxador de dedos tisnados, puxa o lustro ao próprio sapato, não vá ele perder a prática.

Chegado à esplanada vazia, dois empregados demoram a detectar a minha presença e sou atendido com consentida displicência. Como era de esperar o pedido vem trocado. Prazenteiramente aceito a adversidade e almoço devagar enquanto leio o jornal pois hoje até tenho tempo. “Agosto é desgosto”, diz o povo na sua anacrónica sabedoria. Por mim não tenho razão de queixa.

 

Imagem roubada à Luísa, com a devida vénia.

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