O perigoso desígnio das esquerdas unidas
O grande problema da esquerda está no cerne da sua bandeira, aquela mais popular e demagógica, que a catapulta ao poder: a utopia da igualdade como remição da injustiça e do sofrimento humano. O problema é que “as esquerdas” sabem que a imposição da “igualdade” depende da restrição do mais precioso valor humano: o da diferença, ou seja o da Liberdade. E uma parte dessas esquerdas, chamemos-lhe “democrática” não está disposta a avançar muito para esse abismo, e trava sabiamente o seu desígnio perante a realidade dos factos: o caminho da igualdade só se percorre à conta de bárbaros atropelos, infames injustiças e violações aos mais basilares direitos humanos. Além disso a história ensinou-nos como a coacção da igualdade tolhe a excelência, a iniciativa, e promove a dependência, o paternalismo e a estagnação.
É assim que a esquerda “do arco do poder”, para jogar no respeito das regras civilizadas, por regra hipoteca parcialmente a sua utopia. E é deste equívoco que se alimentam as outras esquerdas, as extremas e necrófagas. Que sabem bem o preço a pagar pela cadeira do poder: ou a cedência perante a realidade ou uma temerária e despótica aventura política.
Mesmo sendo um poeta, Manuel Alegre deveria saber isto.