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João Távora

Semanada *

Charles Darwin e os símios


 


Passaram 200 anos sobre o nascimento de Charles Darwin e a imprensa nativa, fazendo eco das festividades internacionais, dedicou algumas páginas ao senhor. Nada mais justo: Darwin alterou radicalmente a nossa visão sobre o Homem. Sobre as suas origens, comportamentos e capacidades. Pena que, no meio das celebrações, algumas perguntas tenham ficado por fazer.

São precisamente essas perguntas em falta que podemos encontrar num dos melhores livros sobre o evolucionismo e os seus limites; um livro que infelizmente, não vi citado na revisão da bibliografia especializada. Intitula-se “Beyong Evolutios” (Oxford University Press), foi escrito por um antigo professor meu (Anthony O’Hear) e pretende defender que alguns aspectos da nossa humanidade não encontram resposta nas teorias evolucionistas, centradas em questões de sobrevivência e reprodução. A nossa busca desinteressada de conhecimento; o nosso amor pela verdade; e até a abertura do humano para o belo e o sublime são comportamentos que parecem desmentir Darwin e, em certos casos, remam directamente contra ele. Um dos elementos mais caros a O’Hear é Sócrates (o filósofo), condenado à morte na Antiguidade helénica. O’Hear pergunta: por que motivo Sócrates aceitou as leis da cidade, recusando-se a fugir de Atenas? O’Hear responde: porque a fuga seria desonrosa para o próprio. E são precisamente conceitos tão antidarwinistas como este – conceitos de “honra”, “sacrifício”, “nobreza de espírito” – que, 200 anos depois, continuam a intrigar os símios.


 


João Pereira Coutinho, Revista Única - Expresso 14/02/2009


 


* Semanada é uma série do Risco Contínuo onde se destaca um excerto de uma crónica da imprensa de fim-de-semana.

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