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João Távora

Desapontamento cor-de-rosa

 

Num impulso nostálgico e a pensar na “cultura” das minhas criancinhas pus-me a coleccionar os DVDs da  Pantera Cor-de-Rosa de Friz Freleng que sai aos sábados com o Público. Na minha memória eu guardava o fascínio do personagem principal, a divertida banda sonora de Henry Mancini, os cenários geométricos em esquiço de cores garridas, e o sentido de humor da série delirantemente sarcástico. Não podia eu imaginar o nefasto efeito de indigestão causado pela visualização de inúmeros episódios seguidos, da repetição exaustiva do tema musical, da receita do humor sempre igual e dos os invariáveis e minimais grafismos: ao terceiro episódio, todo encanto e graça da Pantera, mesmo sendo Cor-de-rosa, esvaíra-se totalmente, e as minhas crianças olhavam para mim de soslaio insinuando uma imensa “seca”. Talvez pouco convincente, ainda lhes expliquei que antigamente era uma Graça caída dos céus, quando o canal único de televisão exibia um episódio avulso e acidental, entre um programa de agricultura e um telejornal chatíssimo sem facadas ou inconfidências da vida real. Não entenderam e voltaram insolentes para os seus computadores pessoais trocar mensagens, ficheiros mp3 e clips do youtube enfim, a interagir com o mundo.