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João Távora

Uma nova ambição: trabalho, trabalho, trabalho!

 

Como reacção a 48 anos da ditadura, cuja propaganda (como resposta a dezasseis anos de caos e violência) se fundou nos valores da família, a religião e trabalho, tivemos trinta e cinco anos de democracia em que a estética imperante os proscreveu liminarmente. Exemplo disso é o que sucedeu à agricultura nacional, que de tão glorificada em tempos, foi votada ao abandono a seguir ao 25 de Abril, amaldiçoada pelos poderes como actividade quase indigna. Como resultado estabeleceu-se, uma cultura de indolência, especulação e irresponsabilidade: o “trabalho” é palavra de ordem banida, o desvelo é indício fraqueza, e a máxima aspiração indígena é ascender à fidalguia cortesã do regime, ancestral vício congénito, que os partidos se constituíram pródigos promotores.

A realidade actual seria irónica se não fosse a nossa desgraça: muito e árduo trabalho é a herança que temos e o testamento que deixamos, a nossa única redenção possível. Como acontecerá esta inevitável revolução em democracia, é a minha maior perplexidade.