Terra queimada
O deplorável espectáculo a que a disputa política pode chegar, alimentada pela democrática indústria dos media está plasmado no debate de ontem entre dois pretendentes ao mais alto magistério da Nação, Cavaco Silva e Defensor de Moura.
O “facto político”, o sound byte, ou a pura calúnia são hoje um rentável manancial de lucro, produtos de consumo massivo, e como é bom de ver, quanto mais rasteiro e desvairado for, mais vende, mais satisfaz a alarvidade da maralha, ávida duma catarse que a resgate por uns momentos da sua sombria existência. Não há reputação que resista a este circo de monstruosidades ao qual alegremente os actores e intermediários da política aderem ao sabor de conveniências do momento, comprometendo a sustentabilidade de qualquer desígnio de longo prazo.
E desenganem-se os que julgam que obtêm dividendos com esta progressiva degradação: o fenómeno não se fica por uma questão de regime, nenhum sistema ou comunidade organizada resiste a esta perversidade. Assim se joga a liberdade dos nossos filhos por nós desbaratada no confronto com o obscurantismo e a decadência que é o destino duma sociedade em completa descrença e dissolução.