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João Távora

Entretenimento

 

O cadáver jazia na marquesa quando a médica forense decidiu retirar-lhe o coração já inerte para pesquisa. Dito e feito: “se o assassinato foi feito com uma injecção de ar numa veia de modo a bloquear o ventrículo, este flutuará” - asseverou ela. Afundando-o num recipiente de vidro cheio de água a mulher espetou-lhe o bisturi na aurícula direita, que logo expeliu grossas bolhas de ar. Num flash-back visualizamos repetidamente através do próprio olhar da vítima, aquilo que o mais sádico psicopata não se lembraria: uma seringa é espetada na sua íris e injectada a tal bolha de ar para o vaso sanguíneo. “Foi a última visão da vítima”. Para azar do meticuloso assassino a “arma do crime” estava suja de vestígios de tinta, e as análises laboratoriais encarregam-se de o incriminar: o móbil, era o roubo de uma tremenda arma mortífera que pretendia traficar. A acção precipita-se com Horacio a chegar à pista do aeroporto a tempo de impedir o seu embarque, ao que o vilão responde com uma demonstração do funesto dispositivo, rebentando com a parte de trás do seu reluzente Hummer. Então, o nosso implacável herói sai calmamente do veículo em chamas e espeta com três balázios certeiros no coração ou na testa dos pilantras: o som seco do peito e do crânio rebentar é elucidativo: foi gravado em alta-fidelidade com efeitos surround. O episódio termina com este cenário trágico, mortos, chamas, destruição… e o nosso aprazível detective retirando os óculos escuros com souplesse, gesto que desvenda o seu olhar vago apontado para o infinito. Nós, apagámos o televisor, as luzes, e recolhemos aos acolhedores aposentos, para um sono retemperador.