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João Távora

Inquietações

 

Tendo em conta a cultura dominante nos meios de comunicação social e nas oligarquias do regime; quando ser de esquerda é considerado uma virtude em contraponto ao adjectivo pejorativo que constitui a posição contrária; jamais se poderia esperar um mandato menos que conturbado a um governo de direita em Portugal. A tarefa revela-se então ciclópica na actual situação de resgate financeiro e emergência nacional, para mais coincidente com um processo de ligeiro reequilíbrio das economias mundiais e o correspondente empobrecimento do ocidente a que se assiste. É por isso que receio que nos defrontemos de novo com o facto de um governo não socialista não vir a completar o legítimo mandato por razões exógenas à democracia e seus preceitos regulamentares. Por mais justificações que se atribuam a estes golpes de Estado o assunto inquieta-me profundamente. 
Assim como me inquieta que o partido que arruinou as finanças do país e que negociou e assinou o respectivo acordo de resgate financeiro com o FMI e os parceiros Europeus, tenha conseguido fazer vingar a ilusão colectiva de que a austeridade é um mero capricho, uma opção ideológica, e não a consequência de uma economia moribunda e da impossibilidade de financiamento do Estado nos mercados financeiros. Um embuste que incendeia as ruas e põe em causa a salutar alternância dos partidos no poder. E que mais tarde em confronto com a realidade resultará em mais um profundo golpe no crédito da democracia.