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João Távora

Tenham medo, muito medo!

Não quero ser desmancha-prazeres, mas ao contrário do coro de comentadores que pretende ser possível contar com alguma razoabilidade por parte do Partido Socialista para a inadiável reforma do Estado, parece-me bastante previsível que, com inusitada demagogia, se acentue uma imensa fractura entre os partidos do bloco central. Porquê? Porque da ilusão de alternativa e de antagonismo depende a sobrevivência do espectro partidário que suporta e de que se alimenta a IIIª república. Entendo muito bem o jogo de sombras em que o CDS dramatiza um papel de “polícia bom” reclamando espaço e diálogo com António José Seguro e seus rapazes. Obviamente que eles farão os impossíveis para não serem infectados nem com uma gota mais que seja da amarga bateria de antibióticos que os próprios prescreveram em parceria com os nossos credores.
Acontece que numa situação destas o jogo político revela-se extremamente básico, e os socialistas só têm uma de duas escolhas a optar: ou à distância do camarote, refastelados se resguardam das impopulares medidas que a coligação com o beneplácito do nosso semipresidente está legitimada a empreender, limitando-se a gerir um "mau ambiente controlado" sempre que possível no limite da ruptura, aguardando por uma meteorologia financeira e eleitoral de feição; ou optam por uma suicidária estratégia de cooperação discreta em que arriscam um desnecessário contágio de erosão que significaria um extraordinário brinde aos partidos da esquerda extrema. Claro que tudo isto são equilíbrios precários muito difíceis de administrar, só possível com muita exaltação demagógica que convida à vertigem e ao erro, coisa que numa situação como a que vivemos pode significar uma desgraça ainda maior para os portugueses, como seria o caso de um segundo resgate. Ou seja, na melhor das hipóteses não se augura nada de bom. Tenham medo, portanto. Muito medo!

 

Imagem Público