A urgência do final dum ciclo
Começo esta pequena crónica por uma "não notícia": após o longo bocejo que foi o campeonato de futebol que agora está prestes a terminar, o Porto com todo o mérito prenuncia-se uma vez mais campeão nacional. Com falta de qualidade, competitividade e um calendário inaudito, em que pontificaram várias interrupções de duas e três semanas a quebrarem o ritmo e o interesse, o maior evento desportivo nacional está em perda consolidada de popularidade: tornado num espectáculo previsível e pouco emotivo, as bancadas perderam espectadores, e como consequência alguns clubes debatem-se com a eminente falência.
A primeira página do Público de ontem pareceu-me bem sintomática do diagnóstico que exponho: na sequência de uma jornada decisiva em que os dois grandes de Lisboa cumpriram (desastradamente) os seus jogos, o diário ostentava na capa uma grande fotografia alusiva à vitória do Barcelona ao Real de Madrid. Com a democratização da oferta de futebol espectáculo na TV (mesmo que desprovido da paixão clubista), o espaço para a mediocridade doméstica é cada menos sustentável.
Assim parecem-me prementes algumas medidas para recuperar a espectacularidade do campeonato e estancar o seu progressivo divórcio com o público. Das mais óbvias destaco a promoção de um calendário de jogos racional, jogos à luz do dia e bilhetes mais baratos que incentivem as famílias a irem aos estádios. No entanto o problema maior está na incompetência da gestão dos clubes: nada funcionará sem que o campeonato recupere alguma competitividade e imprevisibilidade - a essência e o fascínio de qualquer espectáculo.