A velhice e o prenúncio de uma tragédia
A propósito do debate sobre a Eutanásia muito se falou do problema que o aumento da esperança de vida representa nos nossos dias. O enfoque no meu entender deveria coloca-se no drama da fracturação e decadência das estruturas sociais que sempre enquadraram afectivamente e apoiaram logisticamente a pessoa envelhecida. Refiro-me à família alargada e às pequenas comunidades (em que se inclui a Igreja) que tinham essa função. Ao contrário do que nos querem fazer crer, sempre existiram pessoas fragilizadas pela idade extremamente avançada. O "envelhecimento da população" é um fenómeno estatístico. Do ponto de vista humanista, ou seja, na perspectiva da pessoa idosa em si, esse problema tem pouca relevância: “os velhos” não são um corpo social com consciência própria, cada um é uma pessoa com a sua história na plenitude da dignidade que lhe é devida. A grande tragédia que nos ameaça está na quebra dos antigos laços de solidariedade por parte da comunidade atomizada, de uma sociedade utilitária que coloca os “direitos” de cada um acima dos deveres para com os outros. A realização de cada um pelo cuidado ao próximo até ao limite. Mais que um problema para o Estado, a assistência à velhice é um problema a ser assumido por cada um de nós para com o seu próximo. Mas acontece que o amor cristão (amai o próximo como a ti mesmo) foi descartado, substituído pelo conceito romântico que tem por base a conquista do desejo do “eu” a que agora se quer atribuir direitos sobre execução da sua morte. O caldo cultural da modernidade é a coisa mais difícil de resolver e compromete definitivamente os equilíbrios afectivos que estruturam uma sociedade saudável e solidária. Não há cuidados paliativos que disfarcem esta desgraça que deixamos como legado aos nossos filhos.