A crise dos refugiados
A crise dos refugiados, suas causas e consequências no sensível mosaico das nações europeias, possui uma enorme complexidade e como tal tem que ser interpretada sob diferentes perspectivas. Infelizmente, o democrático “pensamento único” obriga a que todos a interpretemos pelo mesmo prisma, o das vítimas, homens mulheres e crianças, cujo desespero requer uma resposta urgente. Ao abalançarmo-nos para outras leituras não sujeitas ao “sentimentalismo radical”, arriscamo-nos a ser apelidados de xenófobos, que como sabemos nos dias de hoje é ignomínia que nos pode marcar por muito tempo como lepra. Nesse sentido queria destacar a coragem do Luís Naves que esteve na fronteira da Hungria e vem publicando no Delito de Opinião as suas impressões e testemunho no olho do furacão desta crise, cuja nossa percepção é pouco mais que vaga ou parcelar. Por exemplo, podemos imaginar a inquietação e a controvérsia que causaria neste jardim à beira-mar se centenas de milhares de refugiados entrassem de forma desgovernada pelas nossas fronteiras a dentro em poucas semanas?
O que mais me espanta no “pensamento obrigatório”, maniqueísta e linear, é a indiferença que sobressai perante a questão mais hedionda que esta crise levanta: a do tráfico humano, um negócio em expansão de que todos acabamos coniventes. A par da urgência da criação de infra-estruturas e equipas de auxílio em pontos-chave para acolhimento e recenseamento dos migrantes, parece-me que urge uma operação de grande envergadura para aplacar os criminosos que se aproveitam do desespero alheio. Depois, talvez seja altura da Europa, para que se possa abrir a outros povos e costumes sem receios, reconsiderar a importância da sua matriz cultural e religiosa, sem complexos.