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João Távora

A morte como serviço público?

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Vivemos tempos estranhos quando o mesmo Estado que criminaliza os maus-tratos  aos animais e quer proibir o seu abate por razões de saúde pública, não só se recusa a criminalizar os maus-tratos a pessoas idosas como pretende agora oferecer a morte a pedido no menu do Serviço Nacional de Saúde. Vivemos tempos estranhos quando a morte a pedido nos é vendida como privilégio civilizacional garantido pelo Estado, o mesmo que não quer, não sabe, não consegue, garantir os direitos de um fim de vida digna aos seus cidadãos. Vivemos tempos estranhos quando o Estado pretende incumbir seres humanos encartados para matar outros seres humanos, justificando isso com a liberdade de um individuo. 

Essa máquina irá encarregar-se de gerir a conveniência dos pedidos de assassinato fundamentados em desesperos certamente inconcebíveis, com a ajuda de gabinetes de advocacia que se encarregarão de justificar dentro dos limites do quadro legal a conformidade do pedido do seu cliente ou a fundamentação da clinica perante casos extremos que considere atendíveis. Assusta-me viver num país que banaliza o valor da vida (inviolável segundo a Constituição), e cuja licitação poderá ficar ao alcance da apetência de cada um, e a morte um serviço garantido pelo Estado. Temos o dever de resistir.