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João Távora

A paixão pela ferrovia

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Sou, com o meu agregado familiar, um utilizador intensivo dos comboios da Linha do Estoril. Quer isto dizer que uma vez mais, na segunda-feira passada a minha vida ficou fortemente condicionada pela enésima greve da CP, uma experiência infernal a que não nos devíamos habituar, sequestrados que estamos todos por meia dúzia de sindicalistas que fazem o que querem desta empresa do Estado. E do socialismo.

Esta manhã quando me dirigia para o Cais do Sodré, qual a minha surpresa, o comboio estanca na Cruz Quebrada, com uma carruagem a deitar fumo como se fosse a carvão. Escusado será dizer que a viagem acabou ali, para frustração e fúria dos pobres passageiros impotentes que tiveram de se desenvencilhar para chegar, sabe Deus como, aos seus destinos. Escusado será dizer que os comboios, muitos deles com mais de sessenta anos, encontram-se num estado deplorável de degradação, dignos dum país de terceiro mundo como o nosso. Escusado será dizer que não se vislumbra o fim das obras nesta linha, que interrompe o percurso de Algés até Cascais e vice-versa todos os dias no período nocturno. Escusado será dizer que deste modo é impossível reduzir os engarrafamentos diários da A5 e Marginal que entopem e poluem a cidade de Lisboa. Escusado será dizer que eu, confrontado com este quadro de terror e frustração, lembro-me sempre de Pedro Nuno Santos e dos seus eufóricos anúncios e promessas de uma ferrovia idílica, “o tempo das autoestradas acabou”, comboios modernos e funcionais, uma paixão platónica como o são sempre as paixões socialistas.

Temos aquilo que merecemos, por cá os chicos-espertos incapazes nunca prestam contas dos seus fracassos.