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João Távora

A promessa de felicidade é uma bomba relógio

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Não tenho feitio para catastrofista, mas não consigo evitar sentir que no ocidente vivemos sobre uma bomba relógio - principalmente os países com uma economia mais débil como Portugal. Eu explico: se somarmos a fórmula venal de sustentação do poder nas democracias liberais com a promessa de “felicidade” para todos os indivíduos, um conceito subjectivo que como todos sabemos é objectivamente inalcançável, com o alarmismo cada vez mais estridente sobre as alterações climáticas – o medo é uma arma muito potente – cujo combate esconde a exigência da austeridade como inevitável modo de vida num Mundo que afinal não possui recursos ilimitados; poder-se-á entender o caldo que está em vias de se entornar por estas bandas (lembram-se dos primeiros anos do resgate da Troika?).
Se no hemisfério sul os povos ainda estão a sair da miséria, por cá poucos são aqueles que estão dispostos a mudar de vida de forma voluntária: basta atentar nas auto-estradas suburbanas de Lisboa e Porto diariamente engarrafadas até à noite avançada, ou como nos sugere Miguel Monjardino, no número de grandes aeroportos em construção na Ásia, na diferença abissal de venda de carros a gasolina com os eléctricos no mundo, e na expansão anual do tráfico aéreo acima de 6% na Europa para entender a discrepância entre o discursos e a realidade. Depois lembremo-nos como surgiu o fenómeno dos Coletes Amarelos em França, sempre na linha da frente no que a motins diz respeito, na sequência do anúncio do aumento dos impostos sobre os combustíveis fósseis e sobre as emissões de carbono. Os revolucionários começam sempre motivados pela ameaça aos seus privilégios, e assim como o transporte individual, o consumo desenfreado do descartável tomaram o lugar do bezerro de ouro da nossa civilização. Como se vai convencer toda a geração “mais bem preparada de sempre” a prescindir das suas viagens de 3 dias em “Low Cost” com que se entretêm enquanto não “assentam” para fazer família – e de caminho mitigar a inversão da pirâmide demográfica que sustenta o Estado Social? E se o travão ao consumo fosse coisa realizável sem muito sangue qual seria o efeito na economia e no emprego? O que me assusta é que já há demasiada gente a maquinar os planos para um novo “Homem Novo” que encaixe nas suas expectativas. Ah, sim é verdade: já me esquecia da felicidade que nos foi prometida em campanha eleitoral. Exijo ser feliz! Porque é que os políticos afinal não cumprem com a palavra dada?!