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João Távora

Amanhã jejua o preto, ainda bem que não é hoje! *

Subida dos mares.jpg

Há dias, no parque de estacionamento do ginásio que frequento, um automóvel cor-de-rosa, que exibia bem visível na traseira um autocolante contra a exploração de petróleo na costa portuguesa deixou-me a pensar…  Afinal os valores ecologistas da feliz proprietária (presumo que fosse uma senhora) daquela viatura acabavam nos limites da nossa fronteira, não prescindindo ela de se locomover num veículo com motor de explosão, com carburante importado de terras recônditas. É como aqueles que se insurgem contra a exploração de lítio na sua freguesia, mas que não prescindem de o usar no telemóvel de última geração, e quem sabe até ambicionam ter um carro de motor eléctrico. Este é o padrão adoptado pelas nossas crianças que, massacradas na escola com o aquecimento global, vêm para casa com intenções de deixar de beber leite e proteínas animais mas não prescindem de um duche de quinze minutos, e toda a sorte de artefactos electrónicos e viagens se possível de avião para os mais exóticos destinos. É difícil educar…
A maior parte dos fariseus do aquecimento global, talvez não saiba que os grandes alertas ecológicos acerca dos plásticos, da poluição e das suas consequências têm quase 50 anos (esta bela canção de Peter Gabriel sobre a subida dos níveis dos mares é de 1977). E para lá duns quantos excêntricos, poucos foram aqueles dispostos a prescindir das comodidades que consomem o nosso planeta, e desde então tem sido sempre a "piorar": aquecimento no inverno, ar condicionado no verão, no mínimo dois automóveis à porta de casa, sem contar com a interminável parafernália de objectos descartáveis que transbordam todos os dias nos caixotes de lixo da nossa rua. E dizem-me que há por aí uma criancinha em tournée a avisar-nos de que o mundo está em perigo. Ontem, uma notícia do Observador referia que talvez a civilização se venha a extinguir em 2050 por causa das alterações climáticas (que evidentemente são culpa de Donald Trump). Perante a incoerência que grassa na cabeça dos recém-convertidos ambientalistas, desconfio que o que eles querem é que seja o governo a obrigar-nos a mudar os hábitos de consumo, que nos proíba a todos de andar de automóvel, nos obrigue a andar de transportes públicos, a desligar os electrodomésticos, a não viajarmos para muito longe de casa (de preferencia de bicicleta), e a fazer a barba com a navalha do bisavô com cabo feito de osso.
Agora a sério, antes de exigirem tirânicas “políticas” milagrosas vindas do além (que ninguém vai querer pagar), o que é que cada um de nós está disposto a prescindir em favor da sustentabilidade da nossa Casa Comum?

 

* adágio que o meu pai usava para confrontar os filhos quando adiavam tarefas e deveres.