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João Távora

As migrações vistas do espaço

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“Seres humanos de todo o mundo uni-vos” é a palavra de ordem que sobrevém da desafiante crónica de Henrique Monteiro no Expresso de Sábado, a propósito da tragédia daqueles que, pelas nossas migalhas, morrem às portas da Europa fugidos da miséria. O cronista perora contra as fronteiras, afinal os diques da nossa cultura e fortuna, que afinal são "construções abstractas que não se vêm do espaço". Sim, a questão das migrações "não deveria ser de controlo, mas de partilha". Bonitas palavras, bem fáceis de escrever, tão difíceis de praticar. O problema é que vivemos numa contingência gravitacional bem terrena que nos atira para o chão: até que ponto escancarar as fronteiras da Europa no mediterrânio serviriam tal intenção? Descendo à terra madrasta, até que ponto o português (e o hemisfério norte em geral) estará desposto a aceitar um brutal ajustamento, na persecução de um corajoso projecto de distribuição e reequilíbrio da riqueza entre o norte e o sul? Se a coisa já é o que é quando para a sobrevivência dum estilo de vida (o do Euro), numa democracia em pré falência como a nossa, nenhuma corporação está disposta a ceder privilégios e o banzé quase degenerava em guerra cívil...

Se o empreendimento e a riqueza são fruto do compromisso, uma mistura equilibrada entre ordem e liberdade; vistos do espaço os portugueses têm muita sorte e pouco que se queixar – choram de barriga cheia, refastelados no sofá do mundo a comer pipocas a teorizar sobre a pobreza. E as migrações, vistas pela televisão ou do espaço, são assunto fácil de resolver.