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João Távora

Deus nos acuda

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Preocupa-me o progressivo desaparecimento das referências cristãs no Natal pelas nossas paragens. Afonso Costa, cúmplice no assassinato do rei, exulta na sua campa, ou suspeito que não, porque não é possível alegria a quem arde no fogo eterno da Geena. Mas a minha preocupação não é tanto a questão da envangelização, mas a da viabilidade a longo prazo deste condomínio em que se vai transformando Portugal. Uma nação, requer uma alma, sabiam?

A pouco mais de um mês da grande festa do nascimento de Jesus Cristo, inspiração fundacional da nossa Pátria e do nosso continente, o que se vislumbra no espaço publico aqui e no resto da Europa, na comunicação social, nas montras e nas nossas ruas, é o império de uma simbologia pagã, o simples, mas irresistível apelo ao consumo e ao prazer niilista. A ausência da iconografia cristã no espaço público salta-nos aos olhos, grita-nos aos ouvidos. Daqui a pouco tempo ninguém reparará.

A diluição, a fraqueza da simbologia e referências que deveriam ser o denominador comum de um povo constitui um factor de decadência. Defendem os materialistas que a lei é o que basta para garantir esse chão comum, mas eu duvido. O que nos garante os mínimos de urbanidade, o cimento que liga as vizinhanças, as freguesias, as cidades, constituídas á volta de uma língua e de uma história? O que estamos a fazer á nossa língua e à nossa História? E o problema não são os imigrantes, somos nós próprios, que, entretidos nos pequenos interesses imediatos desistimos de um sonho comum. Os imigrantes, perante o vazio que encontram no lugar dos nossos símbolos, cuidarão de o povoar com as suas narrativas inspiradoras, na luta por uma vida com sentido.

Talvez eu esteja enganado, mas suspeito que o iluminismo racionalista concebeu a mecânica para uma monstruosidade inviável a médio prazo. Prescindimos da espiritualidade que sustenta a empatia e confiança entre os vizinhos. Encerrados em quartos, isolados e desconfiados, o condomínio não inspira ninguém a enfrentar ameaças ou aceitar riscos. Isolados e estéreis, satisfazemo-nos com o Marcelo e a Selecção, para levantarmos o sobrolho no intervalo do entretenimento.

Na imagem: "O Milagre de Ourique" por Domingos Sequeira (1793)