O dia da Liberdade
O 25 de Abril de 1974 cujo aniversário curiosamente este ano se celebra numa madrugada de quarta para quinta-feira como há quarenta e cinco anos, teve seguramente um grande impacto na minha vida, ao despertar-me aos doze anos para o valor primordial da Liberdade. Até àquela idade eu não tinha a mais pálida noção da realidade política em que vivia, a não ser uma vaga ideia de que vivíamos numa república e que isso não era muito dignificante. Nos dias seguintes à revolução, para lá da desconfiança do meu erudito Pai cuja mundividência alcançava outras eras, fui levado através do convívio com os meus familiares e amigos a acreditar que o tempo era de celebração e de expectativa (sim, também eu trauteei muita cantiga de “intervenção”). Celebração essa que, passado pouco tempo, se tornou em suspeita e de seguida virou receio e sobressalto: no final do ano de 1974, com 13 anos, já eu me envolvera na política e militava no Partido da Democracia Cristã de Sanches Osório e me apercebera que a minha gente era “non grata” à facção extremista que se apoderara do novo regime e da minha Liberdade - o partido, que não sendo de esquerda ou de centro era moderado, foi banido a 11 de Março de 1975. No espaço de um ano estive várias vezes sequestrado, apanhei pelo menos uma sova (no liceu) e houve um período em que com a família vagueei na clandestinidade em casas incógnitas com os passaportes nos bolsos para a eventualidade de termos de fugir do país. Só com o 25 de Novembro nos foi possível retomar uma vida com alguma normalidade.
É por tudo o que atrás referi que posso afirmar sem qualquer hesitação de que foi o 25 de Abril que me ensinou a dar valor à Liberdade e a respeitar os outros e a diversidade das suas ideias e perspectivas. Não há muitos valores pelos quais eu sinta que valha a pena dar a vida, mas por conhecimento de experiência feito, sei que a Liberdade dos meus filhos é um deles. Ironicamente, essa lição devo-a ao 25 de Abril.