O mérito capilar
Já viram algum presidente da república (coisa feia) ser eleito careca? Em Portugal, em democracia, nunca foi eleito algum presidente careca: Ramalho Eanes (que derrotou Soares Carneiro à primeira volta), Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e Marcello Rebelo de Sousa tinham cabeleiras fartas. Tudo indica que esse é afinal de contas o atributo determinante para uma carreira política com ambições ao topo em democracia. Lembrei-me disto no outro dia a propósito do tabu de Luís Marques Mendes a respeito duma hipotética candidatura a Belém. Receio que o comentador não tenha hipóteses de almejar ao mais alto cargo da nação, nem de saltos altos. E se não fosse por outras razões, Passos Coelho pode por a viola no saco. A democracia, como a vida, pode ser muito injusta...
Mas vamos ao cerne da questão, a calvície. Trata-se afinal de um assunto sério, que pessoalmente me começou a afectar por volta dos quarenta anos – também eu hoje quando vou às compras poupo dinheiro e não perco muito tempo nas prateleiras dos Shampoos. Misteriosamente a calvície constitui um sério golpe no narcisismo de um homem, mesmo do mais austero, por muito que se repita a mentira de que “elas preferem os carecas”. Fraco consolo, mesmo que fosse verdade. Diz a Wikipédia que o tipo mais comum de calvície masculina é a alopecia androgenética, (AAG) ou “calvície de padrão masculino”. Se os homens tivessem algum sentido de classe (um dia vai-nos fazer falta), se algum dia fossemos capazes de nos juntar por causas ou interesses legítimos de género, revindicaríamos igualdade capilar com as mulheres, cujos casos de calvície são raríssimos.
De pouco nos consola saber que Francis Galton (1822 – 1911), um pioneiro na eugenia, ideologia tão do gosto dos primeiros republicanos portugueses, defendeu a calvície como um sinal de superioridade. Ou de que as cabeças rapadas, antes da recente conotação com um determinado movimento político, simbolizavam a santidade, o desprendimento e de certo modo um repúdio à superficialidade.
O estereótipo do presidente americano em Hollywood expõe-nos o preconceito generalizado: no cinema é sempre um homem alto, bons dentes para sorrir e bom cabelo bem penteado… porque sim. Percebe-se o desespero de Donald Trump incansável na atenção à sua escassa penugem loira, enfrentando as cruéis partidas pregadas pelos golpes do vento inclemente. Como vimos atrás Kamala Harris não padecerá desta contrariedade.
Comprova também esta tese o facto do último presidente americano calvo ter sido Gerald Ford, que substituiu Richard Nixon em 1973, por sinal “interinamente”. Presidentes carecas nos EUA só encontramos antes do advento da televisão, com Dwight Eisenhower (1953–1961). No país irmão, o Brasil, que em tantos aspectos segue as modas americanas, o último presidente careca escolhido foi Hermes da Fonseca em 1910.
Isto não significa que não haja gente poderosa sem cabelo. Exemplos disso são Jeff Bezos da Amazon, Gianni Infantino presidente da FIFA, ou Marc Andreessen co-fundador da Netscape, ou Lloyd C. Blankfein da Goldman Sachs. Mas repare-se que esses distinguem-se dos vulgares carecas como eu, rapando literalmente a cabeça toda para disfarçar as falhas de cabelo. Albert Mannes, um psicólogo social (uma ciência exacta, já se vê) publicou um estudo em 2012 no Social Psychological and Personality Science Journal acredita que, para aqueles que estão a perder cabelo, acelerar o processo natural (rapar a cabeça) concede mais credibilidade, confiança, força pessoal e liderança. Assim se percebe a estratégia de imagem de João Miguel Tavares, do defesa central Pepe ou de Vítor Bento.
Há muito que me deixei de veleidades de contrariar a natureza, mas para os inconformados que não prescindam de ambicionar à liderança da Nação numa república (as monarquias não têm esse problema como se vê pela descontracção do Príncipe Guilherme do Reino Unido, considerado o calvo mais charmoso do mundo) deixo aqui uma boa notícia: o Grupo Insparya, fundado por Cristiano Ronaldo, prepara-se para lançar uma nova panaceia desenvolvida pelo laboratório i3s no Porto, que promete prevenir e resolver o deficit capilar. Mais precioso que o elixir da juventude, só uma solução que evite a alopecia.
O facto é que, por mais instrução que se promova, o mito da força de Sansão residir no cabelo ainda impera na racionalidade dos eleitorados. Não nos resta outra alternativa que aceitar a realidade sem perder a Fé na democracia, e acima de tudo em Deus, que nos livre da algazarra de mais umas eleições presidenciais, a espreitar-nos à esquina do próximo ano.
Imagem do Filme Sansão e Dalila realizdo por Cecil B. DeMille
Fontes: Internet