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João Távora

Porque é que eu não abandono o CDS

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Se a liderança do Francisco Rodrigues dos Santos cometeu erros e falhou a missão impossível de atrair para a sua roda as figuras gradas que desde há quinze anos com a ascensão de Paulo Portas incorporaram o CDS (que desde o congresso de Aveiro lhe deram luta sem quartel, e algumas das quais por quem nutro franca simpatia), estou convicto que o seu maior sucesso foi ter recentrado o discurso do partido na sua matriz democrata-cristã e conservadora, o meu sonho antigo. Quem me conhece sabe quanto eu há muito batalhava lá dentro pelo reforço e prevalência destes valores identitários que tinham sido aqueles que ainda adolescente me tinham atraído ao Largo do Caldas. Isso tudo e uma firme orientação para o reformismo, um liberalismo económico mesmo que mitigado (sempre achei que a discussão sobre a gradação do mesmo não passa de uma discussão pueril tendo em conta a realidade cultural dos portugueses vergados ao paternalismo estatista desde tempos imemoriais). Refiro-me a uma direita civilizada e humanista que mesmo minoritária se assuma contracorrente num país tendencialmente conformado com a pobreza, desconfiado da liberdade e ressabiado com a felicidade. Um partido sem vergonha do legado histórico cristão que nos enformou civilizacionalmente. Um partido de diálogo e tolerância (sou monárquico e as monarquias só prosperam em sociedades de grande consenso - evoluídas).

Julgo que o CDS paga actualmente o preço de ter cedido à tentação generalista, de querer apanhar tudo disputando o espaço eleitoral do PSD. Como resultado, em vez de termos eleito uma primeira-ministra ficámos reduzidos a 5 deputados. Pela minha parte prefiro um partido pequeno mas sólido na sua doutrina e com um discurso firme para o seu nicho de eleitorado. Sei que talvez seja tarde para retomar o bom caminho, agora que se constituíram outros dois partidos identitários que nos esmagam de um lado e do outro. Em política não há vazios, dizem, e quer-me parecer que o CDS esteve demasiado tempo a querer ser muita coisa ao mesmo tempo.

De uma coisa estou certo: o espaço que o CDS ocupar no parlamento será directamente proporcional ao desenvolvimento civilizacional que atingimos. Não sendo altíssimo será certamente o suficiente para surpreender muita gente na noite de dia 30.