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João Távora

Temos aquilo que merecemos

Retrato de família.jpg

Há quem estranhe os casos de endogamia e nepotismo denunciados no governo e gabinetes por aí abaixo. Este fenómeno, mais do que demonstrar-nos que a elite socialista tem recursos limitados e é pouco permeável (sinal dos tempos de austeridade), revela-nos que perdeu o pudor. A vida é dura, o Estado é um apetecível salão de banquetes, mas também serve uma sandocha se for suplicada nos canais certos: em tempos soube de uma feroz disputa partidária por um lugar subalterno (de ordenado mínimo) numa junta de freguesia de Lisboa. Mas os lá de cima conhecem-se todos uns aos outros há décadas, e como nas famílias da antiga nobreza (como a minha) dão muita importância aos apelidos porque eles revelam parentescos e fidelidades sempre úteis. Frequentam os mesmos restaurantes e vernissages, encontram-se nas férias em selectos destinos de veraneio, os filhos frequentam as mesmas escolas privadas e laicas, enfim, falam a mesma linguagem, são a reserva da Nação. Quando um dia por improvável e injusto acaso os socialistas tiverem de saír do governo para alguém vir arrumar a casa, esta pseudofidalguia retornará aos seus lugares, a minar as autarquias, institutos, arrumadas em direcções e gabinetes de empresas entretanto recuperadas para a esfera do Estado, na certeza de que o inverno será curto. E que, com as relações certas, alguma dedicação ao partido e um pouquinho de sorte, em breve se reencontrarão com o estrelato nos corredores do Terreiro do Paço e muitas viagens para Bruxelas. Entretanto, cá em baixo os portugueses contentam-se com um ordenado de menos mil euros (a única forma de não serem esmagados por impostos) e um desconto no passe social (que dá para pagar pão, leite e frangos, dizia ontem um popular na TV). Esses portugueses que ainda não perceberam que eles são muito poucos e não andam armados, só vivem à nossa custa e ainda por cima riem-se de nós como alarves.

 

Fotografia Lusa

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